Há quem pense que arte é uma coisa, ciência é outra e que as duas não se misturam. Será mesmo? Na carreira de paleoartista, é preciso combinar conhecimento científico e habilidades artísticas para informar e encantar as pessoas com as maravilhas de um passado distante do nosso planeta. Mas o que seria essa tal paleoarte?
“A paleoarte é a junção de informações científicas com técnicas artísticas. O paleoartista precisa ter conhecimento de fauna, flora, anatomia… Precisa de conhecimento científico. Nós estamos sempre juntos de paleontólogos e outros pesquisadores para recriar o passado”, conta o paleoartista Deverson Pepi.
Ainda tem dúvidas? Então vamos investigar a palavra paleoarte. ‘Paleo’ é uma redução de paleontologia, área da ciência que, por meio de fósseis, estuda os seres que habitaram a Terra há milhares e até milhões de anos. Sim, os dinossauros são os mais famosos objetos de estudo da área, que também se dedica a investigar plantas e outros seres vivos que existiram num passado remoto do planeta. Já ‘arte’, que compõe a segunda parte da palavra, é a atividade humana que se vale das mais diferentes linguagens estéticas (pintura, escultura, música, teatro…) para se comunicar.
Agora você já deve desconfiar que paleoartistas trabalham bem próximos de paleontólogos para obter informações científicas sobre plantas e animais extintos. A partir disso, desenham ou modelam um animal, uma planta ou um ambiente que deixou de existir muito antes de os primeiros humanos habitarem a Terra.
Felipe Alves Elias, paleoartista do projeto PaleoZOOBR, traz mais detalhes: “O método clássico são desenhos e esculturas, mas, hoje, com mais tecnologia, é comum usarmos computadores para ‘dar vida’ a esses trabalhos. Podemos usar animações, incluir sons, atitudes, interação desses seres com o ambiente… Nós trabalhamos em parceria com os paleontólogos, que passam as informações para que a arte saia da maneira mais fiel possível ao conhecimento científico do momento”.
Trabalhar com paleoarte não exige da pessoa um caminho específico a seguir. “Você precisa ter uma formação acadêmica? Não necessariamente. Mas é muito importante ter conhecimento artístico e sobre biologia e paleontologia. Isso é essencial”, explica Pepi. “Existem paleoartistas que começaram nas artes visuais, design, e depois se interessam por paleoarte. E existe quem tem formação científica, como é o meu caso. Eu me formei como paleontólogo, me tornei um pesquisador, e depois migrei para essa vocação”, completa Felipe.
Trabalhar em museus, centros de pesquisa, universidades, seja com livros, animações ou até em parceria com influenciadores digitais são possibilidades para quem escolhe a paleoarte. Essa área, que nos parece nova, existe há mais de 200 anos, mas a profissão não é regulamentada. Isso quer dizer que é difícil paleoartistas serem contratados como funcionários de uma instituição. Os trabalhos costumam ser pontuais.
“Hoje, com a internet, ficou tudo mais fácil. Eu consigo ter contato com muito mais cientistas. É preciso montar um bom portfólio [conjunto de amostras de diferentes trabalhos] e ter engajamento com essa comunidade, conseguir se comunicar. Os trabalhos vêm naturalmente quando você trabalha bem e fica mais conhecido”, garante Pepi.
Essa recriação realista do passado da Terra nos permite “ver” um mundo que a nossa espécie não presenciou e até nos apresenta caminhos para cuidarmos melhor do nosso planeta nos dias de hoje. E aí, será que ser paleoartista é uma possibilidade para você no futuro?
Thayuan Leiras,
Jornalista,
Especial para a Ciência Hoje
das Crianças
Matéria publicada em 01.12.2023