Nem sempre gigantes…

Como não abrir um pouco mais os olhos ou aguçar a audição diante de uma imagem ou de um assunto que gire em torno de dinossauros? Esses répteis terríveis – pelo menos no que diz respeito à origem do nome Dinosauria, que é a junção dos termos da língua grega deinos = terrível + sauros = lagarto – são fascinantes, especialmente para as crianças, que sempre os imaginam como seres de tamanho gigante! Mas será mesmo todos os dinossauros eram grandalhões? Não sei não…

Reconstituição do Staurikosaurus pricei em vida.
Ilustração Maurilio Oliveira

Por que os dinossauros despertam tanto a curiosidade das pessoas? A principal resposta pode ser porque, além de extintos e diferentes de tudo o que existe hoje em dia, os dinossauros eram gigantes! Muitos deles passavam dos 30 metros de comprimento, medidos da ponta do focinho até a ponta da cauda. O maior dinossauro do Brasil, por exemplo, é o Austroposeidon magnificus, encontrado na região de Presidente Prudente, em São Paulo, e que, com seus estimados 26 metros, pesava cerca de 30 toneladas. Já o mais famoso do mundo é o Tyrannosaurus rexT. rex, para os apaixonados , que também era enorme: mais de 12 metros de comprimento e um peso que podia chegar a 10 toneladas! 

Mas, aqui vai uma revelação: ao contrário do que muitos pensam, nem todos os dinossauros eram gigantes. E nem por isso foram menos importantes ou maravilhosos! Apenas para relembrar, os paleontólogos – que são os pesquisadores que estudam os fósseis –, conseguiram determinar que nem todos os dinos foram extintos e que um grupo sobreviveu! Que grupo foi esse? O das aves! 

Por mais estranho que essa afirmação possa parecer, fato é que todas as evidências científicas indicam que esses vertebrados emplumados são dinossauros que aprenderam a voar! Mas vamos deixar as aves de fora desta conversa e nos concentrar nos “dinos” de pequeno porte, aqueles que também foram extintos há 66 milhões de anos.

Os pequenos brasileiros na passarela!

Pouca gente sabe, mas um dos registros mais antigos de dinossauros é procedente de terras brasileiras! Sim, foi no Rio Grande do Sul, mais especificamente na região de Santa Maria, que alguns dos primeiros dinos do mundo foram encontrados. Até hoje já são nove espécies descritas, sendo a primeira o Staurikosaurus pricei. Este réptil tinha uma postura bípede, ou seja, caminhava sobre duas patas, e era relativamente pequeno, com apenas dois metros de comprimento e 80 centímetros de altura! O Stauriko, como carinhosamente o chamamos, tinha dentes pequenos, mas serrilhados. Essas características sugerem que tenha sido um animal ágil e predador, cujo alimento principal seria presas pequenas, como mamíferos, que naquele tempo já existiam e tinham a aparência de ratinhos.

Esqueleto de Staurikosaurus pricei, o dinossauro mais antigo do da América do Sul e um dos mais antigos do mundo.
Foto Alexander Kellner

O parente mais próximo do Stauriko é encontrado na Argentina e se chama Herrerasaurus ischigualastensis! O Herrera era bem maior, com um comprimento entre 3 a 5 metros e tinha uma cabeça grande com dentes poderosos. Tudo indica que era um predador ainda mais perigoso do que o seu parente brasileiro. Contudo, o nosso Stauriko é mais antigo: ele surgiu aproximadamente 2 milhões de anos antes do dino argentino.

Outra espécie de dinossauro de tamanho pequeno é o Santanaraptor placidus, que foi encontrado no Nordeste brasileiro, mais especificamente na região sul do Ceará, em rochas com 110 milhões de anos. Ele tinha um comprimento em torno de 1,70 metros e chegou ao nosso tempo com uma excepcional preservação: além de ossos perfeitos, sem distorções, tinha couro, vasos sanguíneos e fibras musculares! Uma verdadeira raridade que surpreendeu pesquisadores em todo mundo! Mas, calma, todas essas partes, que chamamos de tecidos moles, estavam fossilizadas, onde a parte orgânica (neste caso, o couro, os vasos e os músculos) foi substituída por minerais, o fosfato de cálcio. Ou seja: tudo virou rocha!

Outro ponto fascinante a respeito do nosso Santanaraptor foi a indicação, nos primeiros estudos, de que ele é um parente distante do T. rex! Ainda existe muito a ser pesquisado, mas o fato de que o Santanaraptor pertence ao mesmo grupo que acabou dando origem ao T. rex é algo que desperta grande atenção na comunidade científica. Precisamos de mais exemplares desse dino para entender melhor como se dá essa relação com o famoso parente dos Estados Unidos.

Reconstrução do esqueleto de Santanaraptor placidus.
Foto Arquivo Museu Nacional/UFRJ
Exemplar de Santanaraptor placidus, mostrando parte do pé. Entre as falanges foi encontrada a preservação de tecido mole
Foto Alexander Kellner

O menor do nosso território

O menor dinossauro encontrado até hoje no Brasil vem do interior do Paraná, mais especificamente de Cruzeiro do Oeste, em rochas formadas há cerca de 100 milhões de anos. Trata-se de Berthasaura leopoldinae, uma espécie que não deve ter atingido muito mais do que um metro de comprimento e cuja altura era semelhante a de um peru. Seu nome é uma tripla homenagem: à importante cientista e ativista brasileira, Bertha Lutz, que trabalhou no Museu Nacional/UFRJ; à imperatriz Maria Leopoldina, que teve participação na independência do Brasil; e à escola de samba Imperatriz Leopoldinense, que fez uma bonita homenagem ao Museu Nacional, em 2018.

Esqueleto de Berthasaura leopoldinae, o menor dinossauro do Brasil.
Foto Alexander Kellner
Reconstituição de Berthasaura leopoldinae.
Ilustração Maurilio Oliveira

A Bertha, como esse dino foi apelidado, era bípede, tinha uma cabeça relativamente pequena e, o mais interessante, era uma espécie sem dentes! No lugar deles, tinha uma lâmina óssea, ideal para cortar o seu alimento. Aliás, é justamente a questão do que Bertha comia que ainda causa controvérsias no meio científico. Para alguns pesquisadores, esse dino representa uma espécie onívora – que se alimentava tanto de restos de animais como de plantas. Já outros defendem que era herbívoro, se alimentando de plantas. Seja como for, a importância de Bertha foi ter demonstrado a presença de dinossauros desprovidos de dentes na América do Sul, um fato muito raro.

Depois desta conversa, fica claro que tamanho não é documento! Só porque alguns dinossauros – como o Stauriko, o Santanaraptor e a Bertha – não alcançaram um tamanho gigantesco, não significa que eram menos importantes! Cada um deles tem uma valiosa contribuição para a ciência e mostra como esses répteis eram, na verdade, maravilhosos no tempo em que viveram!

Alexander Kellner
Museu Nacional/UFRJ
Academia Brasileira de Ciências

Matéria publicada em 01.12.2023

COMENTÁRIOS

  • Lauren

    Oi chc!
    Eu amei ler isso!!!

    Abracos,
    Lauren

    Publicado em 20 de março de 2024 Responder

  • Rafaela

    Olá, chc!

    Amei ler sobre dinossauros!

    Um abraco
    Rafaela

    Publicado em 20 de março de 2024 Responder

Envie um comentário

admin

CONTEÚDO RELACIONADO

Mar, misterioso mar!

Cheio de vida e de surpresas, o oceano mexe com a imaginação da gente.

O mistério da maçã marrom

Hora de se divertir com experimentos e atividades!