Quem tem um cachorro ou um gato adoraria descobrir o que passa na cabeça desses bichinhos. É ou não é? E quem nunca desejou saber por que outros animais, como macacos ou golfinhos, se comportam de determinada forma, ou quis entender o que eles sentem e do que gostam? Pois existem pessoas que usam métodos de pesquisa muito criativos e eficientes para poder responder a essas perguntas! São os(as) etólogos(as), profissionais que se dedicam a estudar o comportamento, a inteligência e as emoções animais.
A palavra etologia vem do grego e quer dizer “estudo do hábito ou do costume”, que já diz muito sobre a profissão: “Cada vez mais a ciência reconhece a importância de entendermos o comportamento dos animais. A partir desses estudos, conseguimos entender a evolução, o desenvolvimento, a função e o funcionamento de várias capacidades dos bichos, além de sugerir melhores formas de lidar com eles”, explica a bióloga e etóloga Natalia de Souza Albuquerque, doutora, pela Universidade de São Paulo (USP), em comportamento animal.
Natalia já trabalhou com cachorros, gatos, cabras, tartarugas marinhas, macacos-prego e até golfinhos selvagens! Cada projeto traz sua experiência e aprendizado. Mas, em comum, o que define os(as) etólogos(as) é a observação dos outros animais. “Seja com binóculos ou com câmeras de vídeo, observamos o que os bichos estão fazendo em situações como alimentação, reprodução, interação com outro animal etc., e depois analisamos esses registros”, conta.
Com programas cada vez mais avançados de computador, os(as) etólogos(as) verificam, segundo a segundo, as imagens gravadas. Foi assim no projeto mais recente da Natalia, que pesquisava a expressão de emoções em cães domésticos. “Passamos alguns meses codificando os vídeos, quer dizer, utilizamos programas específicos que nos ajudam a olhar em detalhes tudo o que o indivíduo fez durante nosso teste. Depois, analisamos os resultados das nossas observações”, explica.
Os estudos de etologia com cachorros começaram nos anos 1990, mas ainda há muito por descobrir. Já se sabe que tutores atentos e presentes oferecem boas oportunidades para que os cães aprendam e desenvolvam suas habilidades. Isso inclui passeios, interação com pessoas, interação com outros cães, um ambiente de descanso adequado, brincadeira, estímulos… “Mas temos tanto a investigar e a descobrir! E essa é uma realidade não só para cães: ainda temos muito a saber sobre o comportamento e a cognição de todos os animais”, diz Natalia.
Por outro lado, a tecnologia avançou bastante. Hoje existem programas de análise de sons que ajudam na pesquisa das vocalizações (os sons que os animais emitem). Há também estudos que se utilizam de drones (câmaras que voam e captam imagens do alto) para encontrar os indivíduos na mata e no oceano, e, assim, possibilitar a investigação do seu comportamento. E, aos poucos, métodos de inteligência artificial e aprendizagem de máquina são incorporados para o registro e identificação de padrões comportamentais de diversas espécies.
No Brasil, etólogos(as) pesquisam muitos temas diferentes, e cada um tem sua importância. A variedade vai, por exemplo, do estudo sobre a capacidade de saguis de resolver problemas à habilidade de macacos-prego de usar pedras para quebrar cocos. Outros analisam a estrutura social de grupos de formigas, a memória de aranhas, a comunicação de gatos… e até o desenvolvimento de pessoas gêmeas. Isso mesmo: a etologia também estuda os humanos, afinal, os humanos também são animais!
Se você se interessou por esse universo, a dica é buscar uma graduação nas áreas de biologia ou psicologia, medicina veterinária, antropologia, entre outras, e depois fazer uma pós-graduação em comportamento animal. Etólogos(as) podem trabalhar em universidades, institutos de pesquisa, consultorias, empresas… O que não pode faltar, diz Natalia, é paixão por observar os animais. “Nós podemos educar as pessoas para que lidem com eles de forma mais positiva, pensando na conservação e nos direitos que esses animais têm de viverem felizes!”.
Elisa Martins
Jornalista
Especial para a CHC
Matéria publicada em 01.10.2024