A partir de um exame de fezes, médicos conseguem obter muitas informações sobre os hábitos e a saúde de uma pessoa. O mesmo vale para os veterinários em relação a outras espécies de animais. Isso não é diferente em relação a cocôs encontrados em registro sedimentar, que são as camadas de rochas formadas pelo solo e outros sedimentos acumulados ao longo de milhares ou até mesmo milhões de anos.
Pois é! Nessas rochas muito antigas é possível encontrar fezes também antigas. Na paleontologia, ciência que estuda a vida no passado da Terra, esses cocôs são chamados coprólitos. A palavra, que pode nos fazer tropeçar na pronúncia, vem do grego: kopros significa excremento e lithos, pedra, ou seja, fezes petrificadas.
Para se tornar um coprólito, as fezes precisam passar por um longo processo de fossilização – estamos falando de milhares ou até milhões de anos. Durante esse tempo, ganham resistência, até que um dia, quem sabe, serão descobertas e se tornarão um registro geológico. O processo de fossilização é resultado da ação de bactérias e fungos, que modificam algumas características do ambiente onde as fezes foram depositadas, facilitando a formação de minerais no cocô. São esses minerais que garantirão a durabilidade das fezes mesmo após muito tempo.
O curioso dessa história é que, em geral, a ação de fungos e bactérias leva à completa destruição, ou melhor, decomposição da matéria orgânica, processo natural que devolve o que foi decomposto para o ambiente na forma de nutrientes. No caso dos coprólitos, o que garante a preservação, além da mineralização, é o rápido isolamento dessas fezes com o soterramento por camadas e mais camadas de solo e uma baixa quantidade de oxigênio nesse ambiente.
É desse jeito, soterradas e com raro ou nenhum contato com o oxigênio, que as fezes de animais que viveram há milhares de anos, como os dinossauros, podem ser preservadas. Ah! O muco que recobre o cocô, aquele líquido grudento que sai junto com as fezes (argh!), também contém componentes que ajudam na preservação.
Imagine uma expedição paleontológica. Pesquisadoras e pesquisadores caminham carregando suas mochilas cheias de apetrechos para cavar o solo em busca de vestígios do passado. A depender do local de escavação, podem encontrar belas surpresas: ossos de animais aquáticos ou terrestres, incluindo bichos extintos, e também coprólitos.
Com ossos, cientistas podem identificar, a partir de descrições e comparações, a idade daquela ossada e qual seria o animal encontrado. Mas pode também se tratar de uma nova espécie a ser descrita pela ciência. Uau! Já pensou?
Com toda a certeza, localizar e identificar um animal extinto a partir de seus ossos é uma emoção incrível. Em seguida, logo vem a curiosidade sobre os hábitos desse animal, seu comportamento. É aí que se deparar com um cocô fossilizado, ou melhor, um coprólito pode ser um achado e tanto!
Diante de um cocô fossilizado, paleontólogos conseguem recuperar diversas informações ao descrever características como formato, tamanho, volume, restos de alimentos não digeridos que eles contêm, ou até mesmo ovos de parasitas.
A partir do tamanho e volume dos coprólitos, por exemplo, dá para saber o tamanho do animal que o produziu. O formato informa sobre a estrutura de seu aparelho digestivo. A partir da análise química da composição das fezes, é possível distinguir carnívoros e herbívoros, uma vez que o cocô dos carnívoros tende a ser mais enriquecido em fosfato de cálcio. Já com base nos restos de alimentos, pode-se identificar o que comia, se mastigava ou rasgava a comida e até mesmo saber quanto tempo levava para o alimento ser digerido.
Por vezes, conseguindo recuperar essas informações, pode-se até saber qual foi a espécie responsável por produzir o coprólito analisado. Uma vez identificado quem fez o cocô, aos poucos é possível montar o cenário dos antigos hábitos alimentares de animais que existiam em tempos mais remotos no nosso planeta. O tipo de alimentação, se eram predadores de outras espécies ou da mesma espécie e até como esses animais evoluíram ao longo do tempo são informações que podem estar contidas em um cocô fossilizado.
Nem sempre é fácil identificar coprólitos, porque eles podem ser confundidos com pedras. Os olhos bem treinados de especialistas é que levantam a suspeita de estar diante de um cocô fossilizado, o que só será confirmado com análises em laboratório. Mas, depois dessa conversa, aposto que você vai olhar com outros olhos para os cocôs que encontrar. Ainda que de longe, é capaz de você pensar: qual animal será que produziu essas fezes? Parece ser um bicho grande ou pequeno? Carnívoro ou herbívoro?
É, gente, boa parte de ser cientista é observar a natureza, ainda que seja um pedacinho de co… co… coprólito!
Você sabia que o maior coprólito já encontrado mede 67,5 centímetros e pesa cerca de 9 quilos? Esse cocozão fossilizado recebeu o apelido de Barnum e foi produzido por um Tiranossauro Rex. Esse e outros coprólitos podem ser encontrados no museu americano Poozeum (junção das palavras poo, cocô, e museum, museu), ou seja, museu do cocô!
Cocô gigante
Você sabia que o maior coprólito já encontrado mede 67,5 centímetros e pesa cerca de 9 quilos? Esse cocozão fossilizado recebeu o apelido de Barnum e foi produzido por um Tiranossauro Rex. Esse e outros coprólitos podem ser encontrados no museu americano Poozeum (junção das palavras poo, cocô, e museum, museu), ou seja, museu do cocô!
Isabela Jurigan
Instituto de Geociências
Departamento de Geologia e Recursos Naturais
Universidade Estadual de Campinas
Matéria publicada em 01.12.2023
isadora manuelly alencar de lima
legal adorei esta revista chc ja varias revistas da chc no 3ano com minha professora fabi que chamavamos de vovo guida
Isa Araujo Cintra Sabino
Olá ? chc eu amo ❤️ ciências.
Aylla
Olá, pessoal da CHC, eu adoro as duas revistas e já li algumas delas. Gostaria que publicassem meu comentario e eu tambem queria que publicassem uma materia sobre as aranhas. Beijos!
Pedro
Olá chc!
Eu gostei muito da sua escrita os dinossauros eram muito bonitos e realistas.
Assinado
Pedro
Carlos Eduardo
Oi, CHC!
Eu achei muito legal esse artigo.
Tchau,
Carlos Eduardo
Sofia
olá CHC!
Eu amei a sua revista é muito legal!
beijos Sofia
Robert
eu adorei essa matéria pois além de contar de uma forma divertida também informa sobre tudo sobre esse tema!
Kristal e Isabel
Oi, gostei muito dos fatos científicos e da revista. Por favor coloquem mais fatos sobre a idade da pedra. Muito obrigada.
Vicente Casal de Rey Annunziata
Oi galera achei engraçado o assunto Cocôs cheios de historia
cecilia pastro
achei engraçado.tchau.
cecilia pastro
legal
Alfredo Pertussati Neto
Adorei!!!Eu e minha mãe aprendemos a palavra coprólito, de todas as edições que eu já vi essa é a melhor.