Você sabia que o ponto mais profundo do oceano está a cerca de 11 mil metros abaixo do nível do mar? E que essa profundidade consegue ser maior que a montanha mais alta da Terra, o Everest?! Sabia também que mais de dois terços do nosso planeta é coberto pelas águas do oceano? Descobertas incríveis como essas são possíveis graças à oceanografia!
A oceanografia estuda o que acontece no oceano por meio de conhecimentos físicos, químicos, biológicos, geológicos, e também da análise entre o ser humano e o mar. O(a) profissional que exerce essa função é o(a) oceanógrafo(a). Com uma longa carreira dedicada a observar e entender os mares, o biólogo de formação e oceanógrafo de atuação Paulo da Cunha Lana, do Centro de Estudos do Mar, da Universidade Federal do Paraná, conta que as minhocas marinhas foram sua principal motivação para ingressar na oceanografia. Isso mesmo, as minhocas marinhas! Elas são importantíssimas para o meio ambiente. Calma, você já vai entender…
“Desde o início, e até hoje, eu me interesso muito pelas minhocas marinhas. Chamadas “poliquetas”, elas têm uma função ecológica muito parecida com as minhocas do ambiente terrestre. Contribuem para a renovação dos solos marinhos e a circulação de nutrientes. Além disso, elas servem também para avaliar a qualidade dos ambientes marinhos, se determinadas áreas estão degradadas ou não”, revela o cientista.
Além de conhecer e desvendar os mistérios dessa vasta massa de água, proteger e cuidar dela também é parte fundamental da oceanografia. Afinal, a vida na Terra é influenciada diretamente pelo funcionamento do oceano.
“A primeira coisa que diz respeito ao nosso dia a dia é a regulação do clima pelo oceano. Todos os fenômenos que a gente acompanha, como a passagem de frentes frias, ciclones, furacões, ou até mesmo essa variação na quantidade de chuvas que temos todo ano (período de cheias ou secas), tudo isso está diretamente relacionado ao funcionamento do oceano”, conta Lana, que continua:
“Além de tudo, o mar é uma fonte imensa de recursos naturais para as pessoas. Não só na pesca, que é fonte principal de alimento para grande parte da população na terra, mas também na utilização de recursos para a produção de medicamentos e cosméticos, que são extraídos ou gerados a partir de organismos marinhos”.
E para que o equilíbrio siga fluindo é muito importante tratar bem a natureza, não é mesmo?! O ano de 2021 marca o início da Década do Oceano. Proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), ela tem como objetivo conscientizar a população global sobre a sustentabilidade e a saúde dos mares. O professor Paulo Lana dá detalhes:
“A Década do Oceano é um esforço internacional que une não só cientistas, mas a sociedade de uma maneira geral. Cada vez mais temos a compreensão dos danos que temos causado ao oceano, das mais diversas formas. Não apenas a poluição por óleo ou plásticos, que são as mais evidentes. Mas existem outras formas de contaminação que são, talvez, até mais danosas, como as que acontecem por causa dos esgotos. A Década do Oceano vem em um momento muito propício, pois o oceano está sofrendo muito com a nossa capacidade, cada vez maior, de transformar o ambiente ao redor”, alerta.
Ah, lembra que começamos esse texto falando sobre o ponto mais profundo do planeta? Pois ele fica na Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, pertinho das Filipinas. Paulo Lana conta que a tecnologia é um dos principais aliados da oceanografia na descoberta e exploração desses locais tão distantes.
“Apesar de algumas pessoas já terem alcançado tais profundezas, geralmente são robôs que usamos para explorar esses locais. Nós chamamos de ‘ROVS’ os veículos não tripulados e operados por controle remoto que vão até aos locais mais fundos do oceano para coletar e trazer amostras de organismos, além de filmar e fotografar o ambiente”, explica.
Não se engane pensando que a biodiversidade é rara nos pontos mais distantes dos mares. Muito pelo contrário!
“Durante muito tempo os próprios cientistas acreditavam que não existia vida nas regiões mais profundas do mar. As condições não pareciam favoráveis, já que não existe luz solar, a pressão é muito alta e as temperaturas baixíssimas. Mas, com o tempo de estudo, descobrimos que grande parte da diversidade biológica do planeta encontra-se justamente nesses ambientes mais profundos”, finaliza Paulo.
Se você se animou com os desafios dessa conversa e é dessas pessoas apaixonadas pelo mar, talvez a oceanografia seja a sua praia!
Guto Mariano
Jornalista, especial para a Ciência Hoje das Crianças
Matéria publicada em 20.01.2021
João
muito boa