Já imaginou trabalhar se aventurando no fundo do mar? Isso mesmo, no fundo do mar, procurando e investigando, por exemplo, navios que afundaram! Pois essa profissão existe: estamos falando da arqueologia marinha – área que se dedica a preservar e estudar objetos encontrados nas partes mais profundas dos mares.
Oceanólogo e professor dos cursos de graduação e pós-graduação em arqueologia da Universidade Federal do Piauí e mestre e doutor em arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, Flávio Calippo revela que a profissão é uma verdadeira viagem no tempo!
“Na arqueologia, vemos que a compreensão do passado é a melhor forma de entendermos a sociedade em que vivemos. Estudamos naufrágios, porque eles possuem informações sobre as tecnologias, as pessoas, o comércio, as relações sociais, as rotas comerciais, os portos e muitas outras informações sobre o nosso passado”, conta.
Parece interessante, não é mesmo?! Flávio usa o Brasil para dar um exemplo do que pode ser descoberto por meio da arqueologia marinha:
“No Brasil, com exceção dos povos indígenas, todos os nossos outros ancestrais utilizaram barcos para chegar até aqui. A arqueologia subaquática [ou marinha] nos ajuda a contar as histórias deles. Como vieram para cá? Em que tipo de embarcação? Por que vieram? O que traziam consigo? Em que condições vieram? De que porto partiram? Em que porto chegaram? Como era a vida dos imigrantes europeus a bordo das embarcações? Quais eram os espaços nas embarcações destinados aos africanos escravizados, roubados de suas famílias e nações, e transportados como carga? Por isso, entendemos que esses naufrágios são uma herança que deve ser preservada para que nunca esqueçamos, como sociedade, de onde viemos, o que passamos e quais foram nossas escolhas”, explica.
Nosso entrevistado ainda fala sobre como é o seu dia a dia, na prática, além de dar dicas valiosas para quem se animar em seguir a profissão: “É preciso ter curiosidade, determinação e empenho. A curiosidade é o que nos leva a querer pesquisar, a saber como e por que as coisas acontecem. Mas, para investigar, é preciso empenho e determinação. É preciso estudar, escrever projetos, fazer análises em laboratório, produzir relatórios, artigos e, o melhor de tudo, viajar”.
No dia a dia, Flávio passa a maior parte do tempo na universidade, dando aulas e fazendo pesquisas no laboratório. “Estimamos que só 10% de nosso tempo é dedicado às expedições e às pesquisas em campo. A maior parte do tempo é dedicada à análise, ao estudo e à publicação das análises coletadas e dos resultados produzidos. Por isso, a curiosidade e a determinação são importantes. É no laboratório, estudando, que conseguimos tirar as informações que matam a nossa curiosidade sobre o mar e sobre os naufrágios. É o local em que pensamos também o que vamos fazer – e quais as perguntas vamos responder – nas próximas expedições”.
E aí, ficou com vontade de desbravar os mares para ajudar a desvendar os segredos do passado?!
Guto Mariano
Jornalista
Especial para a Ciência Hoje das Crianças
Matéria publicada em 05.12.2022