No dia 2 de setembro de 1859, por volta de 11 horas da manhã, o astrônomo amador britânico Richard Carrington estava realizando sua observação diária do Sol para mapear manchas solares, regiões escuras no disco solar, quando percebeu um evento muito comum: uma erupção solar!
Carrington e seu auxiliar observaram por quase cinco minutos, a olho nu, um clarão no Sol, coisa que normalmente só se detecta com instrumentos especiais que conseguem captar tipos de luz que o olho humano não é capaz de notar. Eles registraram o evento inédito em suas anotações, talvez acreditando que não haveria grandes consequências. Mas…
As noites seguintes foram de intensas auroras, fenômenos que provocam luzes coloridas no céu noturno, que foram percebidas até em locais que nunca haviam ocorrido, como em Cuba e na Jamaica. Alguns relatos afirmam que foram tão fortes que, em Londres, na Inglaterra, foi possível observar a sombra das pessoas projetada no chão. Em uma localidade dos Estados Unidos, os trabalhadores de uma mina de ouro levantaram e começaram a fazer o café da manhã por volta de 1 hora da madrugada, acreditando que já estava amanhecendo.
Na época, poucos aparelhos utilizavam eletricidade e um deles, muito importante para as comunicações, o telégrafo, chegou a funcionar mesmo desconectado da rede elétrica! Alguns operadores deste equipamento até sofreram choques pelas enormes faíscas emitidas. Estima-se que metade dos telégrafos dos Estados Unidos foi afetada naquela ocasião.
A razão de tudo isso foi uma tempestade magnética causada pelo enorme fluxo de energia e partículas emitidas pelo Sol, atingindo a Terra. Já conversamos um pouco sobre estas tempestades magnéticas na CHC, e descobrimos que elas ocorrem com mais frequência em determinadas épocas, quando a atividade solar é intensa. Por exemplo, em 10 de maio de 2024 tivemos a maior tempestade magnética dos últimos anos. Ela chegou perto do Evento Carrington, como ficou conhecida a tempestade de 1859. E se uma tempestade daquela grandeza acontecesse nos dias hoje?
Bom, para começar, muita gente ficaria sem energia elétrica e internet. Estudos mostram que a geração de energia elétrica poderia levar anos – isso mesmo: anos! –para ser reestabelecida plenamente. Bancos, mercados, aeroportos, transportes, postos de gasolina, hospitais e outros serviços ficariam inacessíveis por bastante tempo. Haveria também falta d’água, ou seja, um caos!
Agora, preste atenção: não há motivo para entrar em pânico. Nunca acredite em mensagens falsas que dizem para tirar o celular do carregador, porque ele poderia explodir por causa de uma tempestade que está prevista para acontecer durante a madrugada. Cientistas do mundo inteiro estudam e estão atentos a esse tipo de fenômeno. Há equipamentos para medir e processar os dados que podem auxiliar na tomada de decisões para diminuir os danos, caso algo do tipo ocorra. Vamos confiar na ciência!
Eder Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo
Sou paulista, e já nem lembro quando nasci… Sempre fui curioso sobre o porquê das coisas, e desde criança tinha meu clubinho da ciência. Hoje sou professor de Geofísica e continuo xereta e buscando aprender muitas coisas, principalmente sobre a Terra e o Sistema Solar.
Matéria publicada em 31.05.2024
Cecília
Eu sou a Cecília
Cecília
Esse texto é muito longo demais pra mim, pois eu só tenho 9 anos de idade.
Cecília Camello
Esse texto é muito longo demais pra mim, pois eu só tenho 9 anos de idade. E eu não posso ficar sem falar nada, se eu não gostei.
Eder Molina
Oi, Cecília, tudo bem com você?
Te dou toda a razão, se você não gostou, tem que falar, mesmo! Vou procurar melhorar para que você goste dos próximos textos! 🙂
Procure na CHC outros textos menores, e acredito que você vai achar muitos, bem legais!
Obrigado por teu comentário!
😉
Arthur Silveira Klein
Adorei sua explicação. Eu e meus amigos, observamos o sol todos os dias para ver se isto pode acontecer. Achamos que terá uma tempestade solar em breve em 2025.
Eder Molina
Oi, Arthur. Cuidado ao observar o Sol, nunca olhe diretamente para ele, hein!
Existem aplicativos para celular, como o “Tempestades Magnéticas”, que permitem verificar como está o estado de emissão de partículas e raios-X do Sol, e permitem um certo grau de “predição” sobre uma eventual tempestade magnética.
Mas concordo com vocês, acho que logo teremos uma tempestade magnética “daquelas”…
😉