Muitas coisas que observamos no Sistema Solar nos levam a perguntar: como isso se formou? Se você já viu uma imagem de Plutão após a passagem da sonda New Horizons, deve ter notado uma região esbranquiçada que tem o formato de uma lágrima, apelidada de Sputnik Planitia. Essa área, na verdade, é um enorme buraco com mais de quatro quilômetros de profundidade e 1.600 quilômetros de largura. A região é preenchida com o gás nitrogênio congelado, daí sua cor mais brilhante e esbranquiçada em relação ao restante do planeta. Pelo formato e profundidade, a primeira ideia que ocorre para explicá-la é a de que foi gerada pelo impacto de um grande corpo celeste com Plutão em um passado distante. Mas, como comprovar esta ideia, se não podemos ir até lá para coletar amostras ou perfurar o chão?
Nestas situações, cientistas usam uma técnica chamada simulação. Programam, em poderosos computadores, o que aconteceria no caso de um impacto de um corpo celeste. Depois, comparam essa simulação com o que se observa realmente. E repetem isso várias e várias vezes, até chegarem a um resultado que possa explicar a estrutura, mas não se pode ter certeza que será o único.
Então, talvez você também esteja se perguntado: como o impacto de um corpo celeste em alta velocidade, que na Terra e na Lua geraria um buraco circular, conseguiria gerar em Plutão uma estrutura no formato de lágrima? Pois saiba que essa mesma pergunta dificultou a vida de cientistas, até que eles resolveram simular um choque de raspão e à baixa velocidade. Deu bons resultados e, até o momento, é a melhor forma de explicar o que se observa naquela região do planeta anão. Mas não foi fácil! Isso porque, no Sistema Solar distante, as velocidades são muito diferentes das que se observam para corpos celestes próximos ao Sol. Para dificultar, o gelo existente nos planetas e nos satélites de Plutão é diferente, muito mais duro do que o encontrado por aqui.
Para saber como essas simulações se aplicam no mundo real, a ciência conta com outra ferramenta: os laboratórios com equipamentos especiais desenvolvidos para acelerar pequenos objetos a velocidades muito grandes, como o que a NASA possui. Além disso, esses equipamentos permitem fazer as simulações das trombadas contra alvos específicos. O resultado desses choques é analisado em detalhes e ajuda a ajustar os cálculos da simulação em computador, fazendo com que a teoria e a prática se juntem. Com isso, torna-se possível desvendar mistérios existentes até nos confins do Sistema Solar, como em Plutão!
Eder Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo
Sou paulista, e já nem lembro quando nasci… Sempre fui curioso sobre o porquê das coisas, e desde criança tinha meu clubinho da ciência. Hoje sou professor de Geofísica e continuo xereta e buscando aprender muitas coisas, principalmente sobre a Terra e o Sistema Solar.
Matéria publicada em 05.07.2024