Astrobiólogo!

Ilustração Mario Bag

 

Não, não é detetive!Mas se dedica a investigar mistérios. Mistérios no espaço! O maior deles? Saber mais sobre a origem e a evolução da vida na Terra… e principalmente fora dela!Você é fã desse tema e tem muita curiosidade sobre os planetas?Saiba que pode pensar na profissão de astrobiólogo.

A astrobiologia une conhecimentos de Astronomia, Biologia, Geologia, Oceanografia, Química… (ufa!), entre várias outras áreas.A ideia é que todo esse saber ajude a desvendar segredos sobre o nosso Sistema Solar. Para fazer isso,existem as missões e sondas enviadas ao espaço, por exemplo. E também missões remotas, que procuram sinais de vida fora da Terra, com o auxílio de instrumentos como radiotelescópios. Os astrobiólogos reúnem essas informações, analisam, calculam, discutem…

Para entender melhor o trabalho desses profissionais, a CHC foi conversar com o físico Jorge Horvath, coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Astrobiologia(NAP-Astrobio) da Universidade de São Paulo (USP). Ele conta que desde criança tinha duas paixões: o basquete e a ciência. Uniu as duas por um bom tempo. Mas depois trocou definitivamente a bola de basquete pelas formas esféricas do espaço…

 

Ciência Hoje das Crianças: O que é astrobiologia?

Jorge Horvath: É a disciplina que estuda a origem e a evolução da vida no Universo. Ela combina Astronomia com a Biologia, e também com a Geologia, a Oceanografia, a Química… e outras disciplinas mais “tradicionais”. O importante é o ponto de vista comum, ou seja, não olhamos somente os aspectos de uma ou outra num problema. Olhamos o conjunto.

 

CHC: O desafio de um astrobiólogo é buscar vida fora da Terra? Como se faz isso? 

JH: Não somente buscar vida “fora da Terra”, mas também ver como se originou e evoluiu a vida em nosso planeta. A procura de vida fora da Terra é feita com missões e sondas que buscam alguma atividade biológica no Sistema Solar. Também há missões remotas, quer dizer, que observam de longe. Aí se usam instrumentos como os radiotelescópios para procurar planetas com condições de haver vida, e identificar sinais desse tipo neles.

 

CHC: E o que pode ser considerado “vida” no espaço?

JH: A definição de “vida” é uma das coisas mais complexas – e escorregadias! – de todas as ciências. Digamos que há várias definições possíveis. Mas na astrobiologia entendemos que a procura por uma forma de vida deve ser feita principalmente dentro do que conhecemos. Quer dizer: organismos que transmitem suas características a seus descendentes, usando algo como o DNA, que é o material genético;que consomem algum tipo de energia como alimento, e que são essencialmente feitos de carbono e outros elementos – tal como nós somos!

 

CHC: Livros, filmes e desenhos animados alimentam nossa imaginação sobre os extraterrestres. Afinal, existe vida extraterrestre?

JH: Se não existe, deve haver uma razão muito forte. Acho que todo mundo está convencido de que existe. Senão, para que íamos gastar nosso tempo na procura?

 

CHC: Qual foi a descoberta mais inesperada que o surpreendeu?

JH: A quantidade de água em Marte! Incluída a presença de “salmouras”, que são água e sais, na superfície. Por aí há vida mais próxima do que imaginávamos…

 

CHC: Do que mais gosta em ser astrobiólogo? 

JH: Eu me formei em Física, mas acredito em entender o mundo natural. E o legal é justamente isso: poder compreender as coisas. Uma olhada ao redor basta para ver como temos ido longe nisso.

 

CHC: Quando você soube que queria ser astrobiólogo? 

JH: Posso dizer que sempre fui um cientista, mesmo sem ter começado. Queria saber como funcionavam as coisas. Não as coisas práticas, como uma televisão. Mas como funcionavam as estrelas! Pensei que ia me dedicar à Física, somente, mas na época em que tinha começado a estudar, aos 19 anos, a televisão argentina colocou no ar um programa chamado “Cosmos”(apresentado por um grande divulgador de ciência chamado Carl Sagan). Eu já estava grandinho e compreendi que havia problemas muito interessantes ali, até mais do que num laboratório. Assim fui me orientando para a aplicação de toda a Física para as estrelas e o Universo. Também sou louco por basquete, e joguei até os 30 anos. Mas, quando o esporte ficou profissional, eu tive que escolher, já que a cabeça não dava conta de duas coisas ao mesmo tempo.

 

CHC: Como é o seu dia de trabalho?

JH: Meu dia está dividido entre a pesquisa, que inclui cálculos, leituras e discussões, e o preparo de aulas, como corresponde a um professor da universidade pública. Não há ensino superior sem pesquisa, em especial na fronteira da ciência. Estou muito satisfeito com o que faço, muito mesmo. E não trocaria por dinheiro nenhum.

 

CHC: Existe uma faculdade para astrobiólogos ou são profissionais de outras áreas que se especializam?

JH: Nenhuma das duas coisas. Não há carreira de Astrobiologia, embora algumas disciplinas específicas tenham sido criadas dentro de grades de carreiras tradicionais. A Astrobiologia hoje é como a Biologia há mais de um século atrás: algo em construção. Por exemplo, Charles Darwin em pessoa não era biólogo, já que a Biologia não existia no século 19. Dentro de algumas décadas poderemos ver a Astrobiologia nesse estado, e para isso estamos trabalhando.

 

Elisa Martins
Jornalista, especial para a CHC

Matéria publicada em 06.12.2018

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