Por que alguns animais e plantas ocorrem em certas regiões e não em outras? Quem pode nos ajudar a desvendar esse mistério é a biogeografia! Profissão em que não pode faltar paixão pela natureza, disposição para trabalhos de campo e laboratório, além de muita curiosidade. Quem disse isso à CHC foi o biogeógrafo e professor Ricardo Gonçalves Cesar, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“É um trabalho muito dinâmico, pouco rotineiro e que proporciona contato direto com a natureza. Além disso, possibilita a integração com outros profissionais (biólogos, geólogos, climatologistas, químicos, engenheiros ambientais etc.) e sempre estou aprendendo algo novo”, conta ele. Quem aí quer aprender também?!
Começando pela pergunta que abre esse texto, o professor Ricardo explica que alguns fatores que influenciam a distribuição dos seres vivos pelo planeta são naturais: têm a ver com o passado da Terra, com a formação dos continentes, das montanhas, dos rios… e com o clima! Mais recentemente, a ocorrência de determinados animais e plantas em certas regiões e não em outras passou a ter relação com as atividades humanas também – áreas mais urbanizadas (com maior concentração de pessoas nas grandes cidades) e deficientes de saneamento básico podem ameaçar várias espécies, e/ou estimular a proliferação de animais oportunistas, como os ratos. Outros riscos são a introdução de espécies exóticas em um ambiente – ou seja, de animais e plantas oriundos de outras regiões – e ainda as mudanças climáticas, que podem induzir a proliferação de vetores como o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue.
Em tempos em que falamos tanto de proteção ambiental, a biogeografia é essencial para mostrar as ameaças aos seres vivos:
“O trabalho que mais gostei de fazer foi o mapeamento dos impactos ecológicos e ecogeográficos associados à poluição por metais pesados e esgoto doméstico na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, antes e depois das Olimpíadas de 2016”, conta Ricardo. “Algumas intervenções urbanas foram realizadas na Lagoa para atender demandas dos Jogos. Nosso objetivo foi avaliar a efetividade dessas intervenções. E elas, infelizmente, não contribuíram para a melhoria esperada da qualidade ambiental do ecossistema da Lagoa”.
Biogeógrafos/as podem trabalhar em programas de preservação ambiental e de conservação da biodiversidade, o que abrange desde pesquisa acadêmica nas universidades até a atuação em órgãos públicos (como Ibama, ICMBio, Embrapa etc.), ONGs e empresas de consultoria, que avaliam questões ligadas ao meio ambiente.
Normalmente, a especialização em biogeografia se dá após a formação em geografia ou ciências biológicas. Mas não para por aí. Esses profissionais lidam com frequência com conceitos de biologia, geologia, climatologia, solos, química… São conhecimentos essenciais no dia a dia, nos trabalhos de campo para coleta de amostras e de dados. E ainda vão ao laboratório, onde analisam amostras e montam experimentos.
Quem se imagina trilhando o caminho da biogeografia deve saber que é fundamental estudar e se atualizar sempre. Novas tecnologias não param de surgir e são grandes aliadas para mapear a presença e os perigos de poluentes ambientais como microplásticos, medicamentos e outros, que podem provocar sérios danos à natureza e alterar a distribuição geográfica dos seres vivos.
O professor Ricardo Cesar explica que, infelizmente, no Brasil ainda faltam mapas detalhados da diversidade de plantas e animais nos diferentes biomas . E que fica muito difícil preservar aquilo que não se conhece e não se sabe onde está.
“No caso, por exemplo, da biodiversidade de solo (minhocas, formigas etc.), há escassez de profissionais brasileiros capazes de realizar este tipo de mapeamento. Boa parte das pesquisas biogeográficas no Brasil tem tentado preencher essas lacunas”, conta ele.
A biodiversidade, lembra o professor Ricardo, faz diferença para as atividades humanas. Ela ajuda na redução das taxas de erosão de solos, na manutenção dos mananciais de água doce, na produtividade de atividades agrícolas, no ecoturismo, na pesca, na preservação de práticas de populações tradicionais…
Por isso, diz o biogeógrafo, ter mais profissionais dessa área é essencial: “O mapeamento e a conservação da biodiversidade são fatores chave para a manutenção de todos esses serviços do ecossistema.”. E aí? Você se anima?!
Elisa Martins,
Jornalista,
Especial para a Ciência Hoje das Crianças.
Matéria publicada em 23.06.2021