Toc, toc… Alguém bate na porta.
“Quem é?”
“Seu médico!”
O médico de família! Um médico que atende os pacientes, pessoas de todas as idades, em casa, nas
comunidades e nas escolas. Lembra muito os médicos de antigamente, que estavam o tempo todo perto dos pacientes e eram praticamente membros da família.
A grande missão dos médicos de família é deixar os consultórios de lado e ir para as ruas, cuidar de quem precisa. Se você gosta de cuidar das pessoas, principalmente de quem é mais carente, esse pode ser o seu trabalho ideal.
Para saber mais sobre essa profissão, conversamos com a doutora Thaís Ferrão, que trabalha no Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. Ela contou como é o dia a dia cheio de novidades de um médico de família.
Ciência Hoje das Crianças (CHC): O que é a medicina de família?
Thaís: “A Medicina de Família e Comunidade é uma especialidade que cuida de todos da família, independentemente da idade ou do sexo da pessoa. Atendemos crianças, adultos, idosos e gestantes. Fazemos visitas à casa das pessoas, conversamos com as escolas do local…”.
CHC: Qual é a diferença da sua atuação para a de outros ramos da medicina?
Thaís: “Em geral, as outras especialidades focam em um determinado ‘problema’ ou em uma faixa etária específica. A medicina da família também faz coisas específicas, como visitas domiciliares e visitas às escolas. Mas estamos atentos para a influência que a família e a comunidade têm na saúde das pessoas e nas doenças que elas contraem”.
CHC: Levar saúde para os mais pobres, como moradores de favelas, grupos indígenas e quilombolas, é a missão mais importante do médico de família?
Thaís: “A missão mais importante do médico de família é oferecer cuidado àqueles que mais precisam, é diminuir distâncias e lutar contra as desigualdades sociais”.
CHC: Como é o seu dia a dia? Além de visitar as casas, você atende em consultórios?
Thaís: “Temos um dia a dia de atendimento ambulatorial, no consultório, com tempo para visita domiciliar, para reunião de equipe e para visitas às escolas. Tentamos sempre estar mais nos lugares, mas a pressão por atendimentos no consultório é muito alta. São muitos pacientes para atender”.
CHC: Há quem diga que os médicos de família são como os doutores de antigamente, que iam à casa das pessoas, sabiam de todos os problemas… É isso mesmo?
Thaís: “Sim, é por aí mesmo! Antigamente, além de os médicos irem às casas, eles estavam mais preocupados em ouvir e entrevistar o paciente e fazer exame físico, e não com os exames complementares, como hoje em dia. Os médicos escutavam mais os seus pacientes. E nós, da Medicina de Família e Comunidade, também fazemos isso”.
CHC: Esse convívio mais intenso faz o médico quase virar um membro da própria família, não é? Isso ajuda no trabalho?
Thaís: “Temos uma ligação muito intensa com as pessoas e suas famílias. Esse vínculo ajuda muito no tratamento e nas propostas que oferecemos para melhorar a qualidade de vida dos pacientes”.
CHC: Qual foi a coisa mais legal que você já ouviu de um paciente?
Thaís: “Que é maravilhoso ter uma médica de família em quem ele confia e que vai cuidar dele por toda a vida”.
CHC: E o episódio mais complicado? Pode compartilhar?
Thaís: “O mais complicado é quando existem conflitos familiares graves. Já estive em uma casa em que, durante o atendimento, as irmãs partiram para a violência física. Foi muito difícil”.
CHC: O que um bom médico da família não pode deixar de saber?
Thaís: “Precisa saber diagnosticar e tratar os problemas mais recorrentes da população que mora em determinado lugar. Como exemplo, na região em que trabalho, temos: HIV, tuberculose, hipertensão arterial, diabetes, depressão e ansiedade, entre outros. Além disso, usamos várias ferramentas voltadas para a família, além de um diagnóstico comunitário”.
CHC: Pode descrever as ferramentas que você mais usa?
Thaís: “Uma boa anamnese, que é uma entrevista detalhada com o paciente, e um exame físico, além de outras ferramentas mais específicas voltadas para toda a família”.
CHC: Você já sabia que queria ser médica de família desde que entrou na faculdade? Ou o plano era outro?
Thaís: “Estudei na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) de 2001 a 2007 e, naquela época, não se falava muito nessa especialidade, então eu queria fazer clínica médica. Foi através de um amigo médico de família que conheci o ramo e me encantei por essa forma de exercer a medicina”.
CHC: Como você era na época de escola? O que mais gostava de fazer e quais eram as matérias favoritas?
Thaís: “Eu era muito estudiosa, adorava ler. Minhas matérias favoritas eram: Biologia, Português, Inglês e Filosofia”.
CHC: O que você diria para uma criança que pensa em seguir essa carreira?
Thaís: “Que é uma carreira incrível, com muitas recompensas emocionais. Que nela nos sentimos médicos de verdade”.
A Redação.