Nem tão natural assim

O Brasil é um país gigante. Se você olhar o mapa-múndi, verá que nosso território tem tamanho de continente. Mas o Brasil também é um grande país por sua diversidade – seja pelas culturas e costumes (afinal somos resultado de uma mistura de muitos povos) ou por seus recursos naturais. O hino nacional tem até um verso que diz “gigante pela própria natureza”. Mas… sabia que essa natureza toda não é tão natural assim? Opa! Opa! Opa! Que história é essa?

Ilustração Walter Vasconcelos

Se alguém dissesse que você pode escolher entre um passeio à Amazônia, para experimentar as frutas regionais e tomar um banho de rio… Ou percorrer o Cerrado e a Caatinga e navegar no Rio São Francisco… Ou caminhar pelas trilhas da Mata Atlântica, com pausas para conhecer cachoeiras e praias… Ou visitar as serras e planaltos da região Sul no inverno, tendo uma lareira para se aquecer à noite… Qual seria a sua opção? Qualquer que seja a sua escolha, o que fica claro aqui é a diversidade da natureza no Brasil.

Mas você, que tem memória boa, lembra que a abertura deste texto diz que a natureza pode não ser tão natural assim, certo? Calma! Também não quer dizer que seja artificial. A história é a seguinte: a arqueologia (ciência que estuda sociedades do passado) tem demonstrado que parte da riqueza natural que conhecemos (e aproveitamos!) é resultado de muitos milênios de interação entre seres humanos e o meio ambiente. Nas últimas décadas, as pesquisas arqueológicas vêm indicando que o espaço que hoje chamamos de Brasil é ocupado há milhares de anos por diversos povos e culturas. Esses nossos antepassados desenvolveram maneiras de usar os recursos naturais que, com o passar do tempo, resultaram na diversidade de paisagens que conhecemos hoje.

 

Gente como a gente

Quem mexeu com as plantas, com a terra, com os rios, enfim, com a paisagem, foram pessoas como nós. Nos últimos séculos, porém, passamos a mexer com os recursos naturais e extraí-los de forma tão intensa, que fica difícil uma recuperação da natureza. Vemos diariamente alertas sobre a sua destruição. Curioso é descobrir que os nossos antepassados faziam diferente. As pesquisas arqueológicas têm indicado que eles trabalhavam no sentido de enriquecer o meio ambiente, e muitas vezes se mantinham em equilíbrio com ele. É muito provável que o manejo de plantas que faziam (cuidando, plantando, levando-as de um lugar para outro…) tenha resultado na formação das paisagens de vários dos biomas que conhecemos hoje no Brasil. Veja só!

 

Floresta amazônica

A Amazônia é famosa no mundo todo por sua riqueza e diversidade de plantas úteis para alimentação, medicina ou outros usos. Pois essa riqueza, como demonstram pesquisas científicas, é resultado da ação humana. Nos últimos milênios, os habitantes da Amazônia selecionaram e favoreceram o desenvolvimento das espécies de plantas que usavam mais, e, na mata atual, essas espécies se tornaram dominantes. Algumas dessas plantas são bastante famosas, como a palmeira que dá açaí e as árvores que dão a castanha-do-pará e o cacau. E mais! Em alguns casos, pode-se dizer que os humanos domesticaram as plantas, o que significa que elas foram tão usadas e selecionadas pelas pessoas que acabaram adquirindo características que as tornaram melhores para nós – passando a dar frutos maiores e mais suculentos, por exemplo – como a pupunha.

 A partir do alto, à esquerda, em sentido horário: açaí, castanha-do-pará, cacau e pupunha– plantas que foram manejadas ou domesticadas.
Fotos Wikimedia Commons

E tem mais surpresas na floresta amazônica! Por incrível que pareça, os solos de lá são pouco férteis. Mas, em alguns pontos da mata, o que se planta dá! Estamos falando dos locais onde ocorre a chamada “terra preta de índio”. Como o nome sugere, este solo foi desenvolvido pelos povos originários da Amazônia. Há milhares de anos, nossos antepassados criaram a terra preta de índio a partir do acúmulo de matéria orgânica (restos de animais e vegetais) e carvão em lugares específicos da floresta, gerando camadas profundas de solo fértil.

Terra preta de índio: solo fértil desenvolvido por nossos
antepassados, na Amazônia.
Foto cedida pelo Projeto Amazônia Central, MAE-USP

Estudos mostram que a localização desses solos coincide com áreas de ocupações humanas antigas e duradouras, e que seguem sendo utilizadas pelas comunidades atuais. Num lugar assim fica fácil de plantar e viver com grande riqueza de recursos naturais, não é mesmo?

Floresta de araucárias

Para dar mais uma amostra de como a ação humana contribui para moldar a natureza como a vemos hoje, passaremos do Norte ao Sul do Brasil! Lá, numa região denominada Planalto Meridional, existe a floresta de araucárias, que é basicamente formada de… araucária (é claro), popularmente conhecida como pinheiro-do-paraná. Isso mesmo, uma floresta de pinheiros! Eles não são muito comuns no Brasil, mas existem e são característicos dessa região. É dessa árvore que vem o pinhão, semente que se come com frequência no inverno e é ingrediente de diferentes receitas regionais.

A coleta do pinhão é para a alimentação. Mas a árvore, a araucária, foi tão explorada para uso da madeira, que acabou entrando para a lista de espécies

Exemplar de Araucária, árvore que foi manejada por pessoas no passado.

ameaçadas de extinção. Este é um retrato do presente, mas nem sempre a ação humana foi prejudicial para a araucária. Pesquisas vêm mostrando que os grupos humanos que viveram no planalto há milhares de anos são os prováveis responsáveis pela expansão da floresta de pinheiros na região. Acreditamos que isso foi motivado por razões culturais, pela culinária do pinhão e por toda a riqueza natural útil para as pessoas que é propiciada pelo crescimento das araucárias. Se agora a araucária está em extinção pela exploração humana excessiva, não seria o caso de voltarmos a agir como nossos antepassados e trabalharmos por uma nova expansão da floresta?

E não para por aí…

Com o avanço das pesquisas arqueológicas, há indícios de que a ação humana também deixou marcas na riqueza e na diversidade das florestas da Mata Atlântica e das áreas de restinga. Mas esse assunto é tão gigante quanto o Brasil! Então, a gente promete que volta para contar mais!

Leonardo Waisman de Azevedo
Rúbia Graciele Patzlaff
Taís Cristina Jacinto Pinheiro Capucho
Célia Helena Cezar Boyadjian
Rita Scheel-Ybert
Museu Nacional
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Matéria publicada em 02.05.2022

COMENTÁRIOS

  • adm

    gente q legal

    Publicado em 19 de maio de 2022 Responder

  • Andreza

    Adorei ?

    Publicado em 30 de maio de 2022 Responder

  • Raquel

    Achei muito legal, esse artigo mostra quanta diversidade o Brasil tem, achei muito interessante a terra preta de índio eu não sabia que algo assim existia

    Publicado em 4 de junho de 2022 Responder

  • K3krkri

    6d6dryryudjd

    Publicado em 18 de junho de 2022 Responder

    • Adriana Kátia Tozzo

      A diversidade da natureza brasileira é deforma ampla e deslumbrante apresentada no texto.

      Publicado em 5 de julho de 2022 Responder

  • Magda

    Gostei do subsídio.

    Publicado em 22 de junho de 2022 Responder

  • Silvia Colas

    Ótimo texto!

    Publicado em 22 de junho de 2022 Responder

  • Janete Ritter da Costa

    Muito interessante!

    Publicado em 22 de junho de 2022 Responder

  • Judite Lucia Czechowski Bordin

    Textos riquíssimos.
    Vale a pena trabalhar.

    Publicado em 22 de junho de 2022 Responder

  • Cimara Correia Lima

    texto com informações valiosas e acrescentando detalhes da natureza ,desconhecido….

    Publicado em 22 de junho de 2022 Responder

  • Luciana Pereira Antunes

    Ótimo texto! Apresenta a riqueza e diversidade da natureza brasileira. Preservar as belezas naturais, deve ser o compromisso de todos.

    Publicado em 10 de julho de 2022 Responder

  • Vera

    Texto riquíssimo para que o aluno compreenda a diversidade da flora brasileira.

    Publicado em 14 de julho de 2022 Responder

  • Samuel silvestre dos Santos

    O texto tem bastante informações sobre o nosso país o Brasil.

    Publicado em 17 de julho de 2023 Responder

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