Antes de responder essa questão, é importante entender a diferença entre guerra e combates violentos. Em diversas culturas, ao longo da história, existiram grupos que decidiram se enfrentar não com palavras, mas com armas. E nem sempre isso significa uma guerra. A questão aí é de tamanho mesmo. Uma guerra envolve um esforço de determinada sociedade para combater o que ela enxerga como inimigo.
Desde sempre, as diferentes sociedades humanas procuraram formas de lidar com suas diferenças e interesses de diversas formas. Em alguns momentos, essas diferenças e interesses atingem tal ponto de estresse que os envolvidos só veem uma forma de resolver a questão: brigando com o uso de armas.
Isso quer dizer então que as guerras devem existir? Seria muito melhor que não, com certeza! As guerras existem porque elas são uma forma extrema e violenta de resolver interesses em desacordo. Com a evolução tecnológica, as armas se sofisticaram e essa forma de resolver conflitos tornou-se cada vez mais destrutiva.
Existem muitos motivos, e nem todos eles estão claros ainda. É que cada lado do conflito diz o seu porquê para ir para a guerra e produz uma quantidade enorme de propaganda para justificar isso. Há tantos vídeos do conflito divulgados toda hora nas redes sociais que despertam dúvida sobre qual é, de fato, a verdade. Enquanto não tivermos acesso a documentos internos de todos os países envolvidos, ainda é muito difícil apontar todos os desacordos que levaram a essa guerra.
Isso não quer dizer que não sabemos alguns detalhes da relação entre esses dois países, que já não era muito boa. As coisas pioraram para valer em 2014, quando a Rússia anexou ao seu território a Península da Crimeia, que pertencia à Ucrânia. Desde então, a sociedade ucraniana esteve dividida. De um lado, há os que querem uma maior ligação com a Rússia. De outro, os que desejam de uma aliança maior com a União Europeia, um grupo de 27 países com regras econômicas e políticas estabelecidas entre eles.
O problema é que o governo russo entende que uma aproximação maior da Ucrânia com a União Europeia também significaria a entrada da Ucrânia num acordo militar comum que os países desse bloco possuem, chamado de OTAN – sigla para Organização do Tratado do Atlântico Norte. Então, o que podemos afirmar até agora é que essa guerra tem a ver com o papel que a Ucrânia tem entre os países europeus e a Rússia.
Sim e não. Diretamente, o Brasil não tem nenhuma relação diplomática que obrigue o país a enviar tropas para combater contra russos ou ucranianos. Então, o Brasil não vai participar como combatente da guerra.
Por outro lado, no mundo de hoje tudo é conectado, e as mercadorias circulam pelos países. Uma guerra mobiliza uma quantidade muito grande de recursos, o que faz com que o preço de certos produtos fundamentais suba muito. Aviões, tanques, jipes e caminhões usados na guerra, por exemplo, precisam de combustível. Com essa maior procura, sobra menos combustível disponível. E isso faz o preço do barril de petróleo, que é ainda hoje a principal fonte de combustível no mundo, ficar caríssimo. Se o petróleo fica mais caro, os combustíveis ficam mais caros, o transporte de mercadorias fica mais caro, as passagens ficam mais caras… Isso afeta todo o mundo, e inclui o Brasil também.
O Brasil ainda será afetado por outro motivo. A Rússia é um grande vendedor de fertilizantes para o Brasil. Com o bloqueio que os países da Europa e os Estados Unidos estão fazendo à compra de produtos russos, o Brasil, que é aliado histórico dos Estados Unidos e da Europa, também está deixando de comprar esses produtos, extremamente usados no tipo de agricultura praticada aqui.
Uma guerra é um momento em que as pessoas comuns sofrem com a incerteza do futuro e buscam a melhor forma de sobreviver. É por isso também que devemos procurar cada vez mais formas coletivas e pacíficas de solucionar conflitos, para que possamos evitar esse custo muitas vezes pago com a vida de combatentes e inocentes.
Lucas Cabral
Programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura
Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio)
Matéria publicada em 02.05.2022