Essa vai ser difícil de acertar… alguém aí sabe o que faz um limnólogo? Bem, se você gosta de lagos e rios e espera vê-los preservados por muito tempo, essa é para você: “limno” quer dizer “lago”, e “logo” significa “estudo”. Um limnólogo estuda ecossistemas como rios, lagos, pântanos, lagoas, riachos, açudes… e até mesmo águas subterrâneas!
É uma área da ciência importante sobre um bem tão precioso como a água. Daniel Marchetti Maroneze, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), começou a estudar limnologia em 2008 e não largou mais. Paulina Maria Maia Barbosa, também da UFMG, diz que conheceu a área depois que um amigo a convidou para ajudar em um projeto no Pantanal. Os dois contam que o Brasil é muito rico em ambientes aquáticos. Porém, muitos deles estão ameaçados pela ação humana. Para saber mais, é só mergulhar na leitura abaixo: uma simpática entrevista em que um complementa a fala do outro!
Ilustração Elcerdo
Ciência Hoje das Crianças: O que a limnologia estuda?
Paulina Maria Maia Barbosa e Daniel Marchetti Maroneze: Limnonologia é o estudo das águas continentais, como lagos, rios, represas, lagoas costeiras, áreas pantanosas… Ela estuda a origem e as características dos ambientes aquáticos, e como eles funcionam. Estuda também os seres vivos que habitam esses ambientes, como peixes, crustáceos, insetos, protozoários, bactérias, algas, macrófitas (que são plantas aquáticas), entre outros.
CHC: O que se pesquisa nessa área no Brasil?
Paulina e Daniel: No Brasil são desenvolvidos diferentes tipos de pesquisas limonológicas. Por exemplo: tem aquelas que analisam como os ambientes aquáticos se formaram, quais são suas características gerais como profundidade e largura, os ciclos dos elementos químicos e como a energia flui nestes ambientes. Não podemos esquecer que nosso país é imenso e com uma riqueza muito grande de ambientes aquáticos. Temos os grandes rios da Amazônia com seus igarapés, os charcos do Sul, as planícies de inundação, os lagos com diferentes tamanhos e profundidades, açudes do Nordeste, riachos de cabeceira, lagoas costeiras etc. São ambientes únicos, que abrigam diversos tipos de seres. E este conjunto de organismos também é pesquisado pelos limnólogos, ou seja, quais espécies vivem em cada lugar, o que comem, qual o papel que desempenham no ecossistema, como se reproduzem, se comportam e muitas outras coisas mais.
CHC: Qual foi o trabalho mais legal que já fizeram em campo?
Paulina e Daniel: Em uma das lagoas que estudamos, foram introduzidos peixes não nativos, quer dizer, que estão fora de sua área natural e não eram encontrados originalmente ali. E isso acabou modificando as relações entre as espécies e até mesmo eliminando outras. Resolvemos investigar o passado da lagoa e para isso coletamos a lama do fundo da lagoa, que é como um arquivo que pode nos informar muito do que aconteceu. Bisbilhotamos parte dela atrás de vestígios dos antigos moradores. Assim descobrimos que alguns microcrustáceos, animais de tamanho muito pequeno, praticamente sumiram da lagoa após a chegada dos peixes não nativos. Conhecer esta história foi muito importante porque, como limnólogos, queremos a preservação dos ambientes aquáticos. Fica a lição: a introdução de espécies não nativas pode causar a redução da biodiversidade!
CHC: Quer dizer que o estudo das águas também ensina muito sobre os animais que vivem nela?
Paulina e Daniel: Claro! A água é a casa de muitos animais, e suas características podem afetar quem vive nela. Algumas espécies só conseguem viver em águas bem oxigenadas, outras não. Tem aquelas que se dão melhor em águas quentes, ou em frias, e outras podem viver em locais com variação de temperatura. Algumas espécies vivem tranquilas em águas muito poluídas, enquanto outras só são encontradas em águas muito limpas. Então, tanto as águas nos contam sobre os animais que vivem nela quanto os animais nos contam sobre as águas!
CHC: Aprendemos que a água não tem cor, cheiro nem sabor. Ainda é assim?
Paulina e Daniel: Dependendo do local podemos encontrar uma água transparente, sem cheiro e sem sabor. Mas na natureza nada é tão simples assim. As características da água têm relação com as substâncias liberadas pelas rochas por onde passam, pela presença de algas, entrada e decomposição de diferentes materiais como folhas, galhos e até animais. Isso tudo pode deixar a água naturalmente com cores, sabores e cheiros diferentes. Mas preste atenção: muitas vezes a água com estas variações pode estar, na verdade, poluída.
CHC: A água do mundo vai acabar?
Paulina e Daniel: Pouco provável que a água do mundo acabe, porque sua permanência na Terra é garantida pelo ciclo hidrológico. O que pode mudar é sua qualidade e quantidade em algumas áreas. Nos dias de hoje, principalmente devido aos impactos provocados pelos seres humanos, a disponibilidade de água potável em algumas regiões tem diminuído. Diversos ecossistemas aquáticos foram represados, canalizados, poluídos, drenados, soterrados por asfalto, tiveram suas espécies nativas exterminadas ou mesmo a vegetação terrestre ao seu redor totalmente removida. Se isso continuar e nada for feito, é possível que nesses locais não haja água própria para o consumo nem recreação, ou mesmo para matar a sede dos animais.
Elisa Martins,
Jornalista/Especial para a CHC