Ele nasceu na Itália, em 1798, mas se naturalizou brasileiro e foi uma das mais importantes figuras da história do jornalismo no Brasil. Giovanni Battista Líbero Badaró era filho do médico Andrea Badaró e, seguindo os passos do pai, formou-se em medicina, em 1825. Por conta da situação política da Itália na época, Líbero Badaró imigrou para o Brasil, em 1826, indo morar na cidade de São Paulo em 1826.
Tornou-se professor da Faculdade de Direito de São Paulo e um importante jornalista porque era muito estudioso, não só da medicina, mas também dos assuntos da política. Ele se inspirava nos autores do Iluminismo, acreditando que a razão humana e a ciência poderiam promover o progresso da humanidade. Para ele, o poder dos reis tinha que ser limitado. Por isso, Líbero Badaró escrevia artigos de oposição ao imperador D. Pedro I e contra diversas autoridades de São Paulo, como Cândido Ladislau Japiaçu, seu principal adversário político.
No ano de 1830, Badaró defendeu os movimentos políticos que derrubaram o rei da França, Carlos X. Comentava que o Brasil tinha de passar por processo semelhante, comparando D. Pedro I com o monarca francês. De fato, correu o mundo o sucesso do movimento francês de julho de 1830. Em três dias, os republicanos fizeram com que Carlos X deixasse o seu trono. Pelo país, levantaram-se barricadas, ocorreram revoltas populares e um motim da Guarda Nacional contra o rei francês. O clima na França entusiasmava a luta contra o poder autoritário dos reis em geral.
No Brasil, pessoas iluminavam as suas casas e saiam às ruas, denunciando o poder centralizado nas mãos do imperador. Uma dessas pessoas foi Líbero Badaró, que acabou perseguido pelo governo. Mas Badaró não estava sozinho. Em São Paulo, as manifestações a favor do movimento francês só aumentavam. Jovens da Faculdade de Direito foram para as ruas. O ouvidor Ladislau Japiaçu decretou a prisão de vários dos envolvidos, e Líbero Badaró o criticou nas páginas do seu jornal, O Observador Constitucional.
Líbero Badaró usava o seu espaço no jornal para falar de liberdade, da livre manifestação do povo e dos limites que as autoridades deveriam ter. No dia 20 de novembro de 1830, quando retornava para casa, Badaró foi abordado por quatro homens e sofreu ferimentos a bala. Morreu no dia seguinte. Seu funeral ficou lotado. Milhares de pessoas compareceram e fizeram do enterro um ato político.
Os ventos dos acontecimentos políticos da França continuaram soprando cada vez mais forte por aqui. Tanto que D. Pedro I deixou o trono em 7 de abril de 1831, após conflitos entre os seus apoiadores e seus adversários, na chamada Noite das Garrafadas. A morte de Líbero Badaró foi mais um elemento naquela conturbada situação. Ele se tornou um símbolo da luta pela liberdade de expressão e pela limitação do poder do imperador brasileiro.
Pedro Krause
Professor do Departamento de História do Colégio Pedro II
Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Sou professor de História e adoro falar sobre as personalidades que marcaram o Brasil de outras épocas!
Matéria publicada em 09.03.2020