Experimento centenário

Será que sementes enterradas há mais de cem anos ainda podem germinar?

No final do século 19, um cientista estadunidense estava curioso para descobrir quanto tempo uma semente consegue permanecer no solo ainda viável, ou seja, com capacidade de fazer brotar uma nova planta. Como não dá pra saber há quanto tempo uma semente encontrada no solo já está ali, o jeito era começar um experimento do zero…

Foi assim que, em 1879, o botânico Willian Beal começou um dos experimentos mais longos da ciência. Foi tão longo que ele mesmo não viveu tempo suficiente para concluí-lo. 

A ideia é muito simples. Ele enterrou 20 garrafas de vidro contendo, cada uma, areia úmida e 50 sementes de cerca de 20 espécies de plantas. O plano inicial era desenterrar uma garrafa a cada cinco anos e plantar as sementes para saber quantas, e de quais espécies, ainda eram capazes de germinar. Isso foi feito durante os primeiros 40 anos do experimento. A partir de 1920, um novo cientista responsável decidiu ampliar o tempo entre os testes de germinação para 10 anos, e, em 1980, esse período foi ampliado para 20 anos.

Várias espécies mantiveram a capacidade de brotar por décadas após o início do experimento. E sementes de uma erva chamada verbasco (Verbascum blattaria) germinaram mesmo depois de 140 anos enterradas!

A última garrafa do experimento de Beal foi desenterrada em 2021 e cerca de 20 sementes germinaram, mesmo tendo se passado 141 anos!
Foto Derrick Turner/Michigan State University
Graças ao experimento de Beal sabemos que algumas sementes podem ficar décadas no solo aguardando as condições ideais para germinar.
Foto Shutter StockSnap

O experimento já esteve aos cuidados de sete diferentes cientistas e permanece ativo até os dias de hoje. A última garrafa deve ser desenterrada somente em 2040! Seus resultados têm contribuído para diferentes áreas do conhecimento, como para ajudar no armazenamento de sementes a longo prazo e sobre como usar o estoque natural de sementes no solo para recuperar uma área natural desmatada. Além disso, também nos ensina que, para fazer ciência, é preciso cooperação e muita paciência!


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Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos

Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.

Matéria publicada em 28.05.2024

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