Sabe a agilidade com que o Homem-Aranha sobe e salta de um prédio a outro? A inspiração do herói da ficção vem, claro, das próprias aranhas. Muitas espécies de aranhas possuem pelinhos na ponta das patas que facilitam a subida até em paredes lisas. A seda que o super-herói lança das mãos também se baseia nas aranhas reais. No caso delas, porém, essa seda sai do fundo do abdômen, de um órgão chamado fiandeira. Mas como sabemos de tudo isso? Graças ao supertrabalho dos(as) aracnólogos(as)!
“As aranhas têm muito a nos ensinar. A seda possui propriedades interessantes que podem ser utilizadas na indústria, na confecção de roupas e outros materiais, por exemplo. Os venenos também são muito estudados e podem servir como ferramentas farmacológicas. Até a hemolinfa, que é o sangue das aranhas, tem sido pesquisada para utilização na medicina”, diz o aracnólogo Rogério Bertani, pesquisador do Instituto Butantan. Esqueça o medo e venha ver como podemos aprender muito com esses animais!
Além das aranhas, os(as) aracnólogos(as) se ocupam de escorpiões, carrapatos, ácaros, opiliões, entre outros animais que compõem o chamado grupo dos aracnídeos. Todos os integrantes desse grupo têm oito patas, a cabeça e o tronco são uma coisa só e, ao contrário dos insetos, não possuem antenas.
Estamos falando de um universo imenso de animais! Só de aranhas existem mais de 50 mil espécies em todo o mundo e, de escorpiões, são mais de duas mil espécies. Saber identificar toda essa diversidade não é simples, por isso o ofício dos(das) aracnólogos(as) exige ter uma boa base de taxonomia – ramo da ciência que dá nome aos animais e separa as espécies.
“A rotina depende do trabalho do aracnólogo. Os que trabalham com taxonomia examinam os espécimes, suas estruturas, fazem identificações e publicam artigos, que serão consultados por outros pesquisadores. Em campo, os aracnólogos coletam aracnídeos na natureza e observam seu comportamento, alimentação e reprodução. Outros trabalham com aracnídeos que podem causar acidentes graves em humanos, então coletam esses animais para extração de veneno e produção de soro. São estudos com aplicação imediata, que ajudam as pessoas”, explica Rogério, que trabalha principalmente com aranhas-caranguejeiras.
E quem tem medo de aracnídeos? Pode trabalhar com eles? “Quando aprendemos que os aracnídeos não têm boa visão, não atacam sem motivo e que boa parte deles tem medo de nós, passamos a respeitá-los. O conhecimento ajuda a diminuir o medo”, diz o aracnólogo.
Conhecimento, aliás, foi o maior avanço da área nos últimos anos. “Quando entrei no Instituto Butantan, no começo dos anos 1990, quase não conseguíamos identificar espécies. Em 30 anos essa área passou por uma revolução! Hoje conhecemos relativamente bem a fauna de aranhas e escorpiões no Brasil. Entendemos mais sobre venenos, a clínica dos acidentes e a biologia desses animais”, comemora Rogério Bertani.
Para atuar na área, a dica é fazer uma graduação em biologia e depois buscar uma especialização em zoologia (estudo dos animais), com foco nos aracnídeos.
“O aracnólogo muitas vezes trabalha à noite, porque é o horário em que aranhas, escorpiões etc. estão mais ativos. Vamos ao campo com lanternas de cabeça, pinças e potes, e fazemos a coleta desses animais à noite. É preciso disposição para enfrentar adversidades”, afirma.
A rotina diferente parece ter suas compensações: “Uma hora estamos vendo animais com a lupa, em outro dia damos aula, uma palestra, fazemos pesquisa de campo… Fora a possibilidade de fazer ciência e produzir informações novas. Estar na fronteira do conhecimento é muito legal”, conta.
Elisa Martins
Jornalista
Especial para a CHC
Matéria publicada em 31.07.2024