Produzir alimentos e preservar a natureza são duas necessidades humanas que parecem estar sempre em conflito. Mas há um tipo de cultivo que propõe uma forma mais sustentável de agricultura: o Sistema Agroflorestal (SAF). Trata-se de um método de plantio em que diferentes espécies boas para o cultivo e o consumo são cultivadas ao mesmo tempo numa mesma área.
Falando assim, parece uma verdadeira bagunça, mas não se engane. A agrofloresta, nome dado a essas áreas de cultivo, bem planejada e manejada pode ser muito organizada e eficiente na sua produção. Um dos principais segredos é combinar espécies de plantas com diferentes características e ciclos de vida. Parte fundamental nesse sistema de cultivo são, por exemplo, as árvores de grande porte, que, a longo prazo, podem fornecer madeira ou mesmo frutos como castanhas e cocos.
Durante os anos ou décadas em que crescem, as grandes árvores fornecem sombra e regulam a umidade e temperatura da agrofloresta, permitindo o cultivo de árvores menores, cujos frutos podem ser colhidos em prazos mais curtos, como o café, o cacau e outras árvores frutíferas. As agroflorestas podem ainda ter plantas arbustivas (de pequeno porte) de crescimento mais rápido e que geram produtos agrícolas no curto prazo, como feijão, batata, milho e legumes diversos.
Mas o mais legal mesmo sobre uma agrofloresta é que, assim como uma floresta original, ela consegue abrigar muitas outras espécies, além das que estão sendo cultivadas, como insetos, aves, fungos e microrganismos.
Você pode pensar: “ué, mas estas espécies não podem se tornar pragas e acabar com aquelas que foram plantadas?”. Isso é muito pouco provável, porque pragas e doenças têm menores chances de se desenvolverem em uma agrofloresta por serem controladas por seus inimigos naturais, como predadores e competidores.
A biodiversidade mantida em uma agrofloresta gera ainda outros serviços ecossistêmicos, como fertilização e aeração (que permite a entrada e a renovação de oxigênio) do solo, retenção de água da chuva, ciclagem de nutrientes e polinização. Todos esses benefícios tornam a agrofloresta um lugar de cultivo saudável, onde se usa pouco ou nada de agrotóxicos, o que significa mais economia para o agricultor e mais saúde para todos.
Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos
Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.
Matéria publicada em 05.08.2024