Uma das características mais fascinantes da natureza é a sua diversidade de cores. Basta uma pequena caminhada em um bosque, ou uma voltinha rápida por uma praça arborizada, para nos encantarmos com o colorido de flores, pássaros e insetos. Mas, bem mais do que enfeitar os ambientes, a maioria das cores de plantas e animais têm papel muito mais importante para esses seres, como sobrevivência e reprodução.
Flores e frutos, por exemplo, podem ter cores vibrantes para atrair animais polinizadores e dispersores de sementes, como abelhas e pássaros. Curiosamente, nos animais as cores vibrantes podem ter papéis opostos: atração ou repulsão. Enquanto o macho de uma ave usa cores para dizer a uma fêmea “veja como sou bonito”, um besouro colorido pode estar dizendo a seus possíveis predadores “afaste-se, sou venenoso e tenho gosto ruim”.
Mas, pense comigo: se uma cor é tão vistosa a ponto de chamar a atenção de possíveis pretendentes, ela também não tornaria um animal mais evidente para seus predadores? Nem sempre!
Neste caso, a estratégia leva em conta o fato de que nem todos os animais enxergam o mundo da mesma forma. É que os olhos de diferentes animais têm capacidades diferentes de perceber as cores. Ou seja, comparados à visão humana, alguns animais enxergam mais cores (como pássaros e alguns peixes) e outros menos (como cães, gatos, vacas etc.).
Assim, alguns animais podem sinalizar para membros da sua espécie usando cores que são imperceptíveis para seus predadores. Utilizando equipamentos especiais capazes de captar a cor “real” dos animais, cientistas já desvendaram essa estratégia sendo usada por animais como peixes, borboletas e camarões.
No Brasil, pesquisadores mostraram que, numa espécie de lagarto em que macho e fêmea têm praticamente a mesma coloração acinzentada aos olhos humanos, para a visão dos próprios lagartos os indivíduos de cada sexo são claramente distintos. É como se eles estivessem se comunicando num código que pessoas, e provavelmente seus predadores, não podem compreender!
Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos
Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.
Matéria publicada em 18.09.2019