O ano era 1861 e o local, a cidade de Desterro, atualmente chamada Florianópolis – a capital de Santa Catarina. Um alemão chamado Johann Friedrich Theodor Müller, que era apaixonado pela natureza e vivia no Brasil desde 1852, recebe um presente vindo da Alemanha que mudaria para sempre sua maneira de enxergar o mundo natural. Aliás, um presente que definiria o modo como todos entendemos a natureza nos dias de hoje. Trata-se do livro “A origem da espécies”, de Charles Darwin.
Neste livro foi apresentada a então revolucionária teoria de que as espécies estão em constante evolução por meio da seleção natural. Ou seja, características presentes em certos indivíduos dão a eles maiores vantagens de sobrevivência e reprodução, se tornando cada vez mais comuns nos indivíduos das próximas gerações. Muitos cientistas da época se recusavam a acreditar que as espécies pudessem estar em constante transformação e por isso não concordavam com a teoria de Darwin.
Mas para Fritz Müller, como ficou conhecido nosso personagem alemão, as ideias de Darwin faziam muito sentido e pareciam explicar perfeitamente o que ele observava ao longo de anos de estudos dos animais brasileiros. Tanto que ele resolveu publicar também as suas ideias e assim dar uma forcinha para divulgar e defender o que dizia Darwin.
Em seu livro “Para Darwin”, publicado em 1864, Müller reuniu uma série de informações sobre crustáceos encontrados no litoral de Santa Catarina que confirmavam a ideia da evolução por seleção natural. Uma delas é o fato de animais como cracas, camarões e caranguejos, apesar de serem tão diferentes quando adultos, possuírem várias semelhanças durante as fases de embriões e larvas. Isso se encaixava como uma luva nas ideias de Darwin, pois é uma forte pista de que esses animais herdaram tais características compartilhadas de uma mesma espécie ancestral.
Darwin ficou muito feliz com o trabalho de Müller, que era o primeiro a acrescentar novas evidências para sua teoria. A partir daí surgiu uma grande amizade entre os dois cientistas que, apesar de nunca terem se conhecido pessoalmente, trocaram mais de 60 cartas ao longo de suas vidas. E você aí achando que amizade à distância era coisa dos tempos da internet, né?
Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos
Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.
Matéria publicada em 23.07.2020