As plantas conversam entre si. E se você fez cara de surpresa ou duvida disso, saiba que muitos cientistas também reagiram assim quando os primeiros estudos sobre a comunicação entre plantas foram divulgados!
Em 1983, alguns pesquisadores observaram que plantas próximas de outras que haviam sido atacadas por herbívoros (animais que se alimentam de vegetais) apresentavam maior resistência contra esses inimigos naturais. Esses pesquisadores sugeriram que as árvores atacadas tinham emitido algum tipo de alerta para as árvores vizinhas. A ideia parecia tão absurda que esses cientistas e seus estudos foram muito criticados na época.
Mas os anos se passaram e novas e mais detalhadas pesquisas foram deixando cada vez mais evidente que as plantas podiam, sim, se comunicar de alguma maneira. Mas que linguagem esses seres sem boca, ouvidos e olhos estariam usando? Na década de 1990, novos estudos mostraram que essas mensagens eram enviadas pelo ar, através de compostos orgânicos voláteis que ninguém percebia. Esses tais compostos nada mais são do que substâncias que viajam pelo ar na forma de gás.
As plantas podem produzir milhares de tipos de compostos como esses que, além de servirem para atrair polinizadores e espantar predadores, também podem soar como alerta para plantas vizinhas sobre a presença de ameaças, como herbívoros e organismos causadores de doenças. Detectando esses sinais de alerta, as plantas podem antecipar suas estratégias de defesa, que envolvem a produção de substâncias que afastam seus inimigos naturais ou mesmo que atraem predadores dos herbívoros!
A ciência está apenas começando a compreender como as plantas conversam entre si. Mas já sabemos, por exemplo, que geralmente uma determinada planta tem mais facilidade de compreender os sinais enviados por outras da mesma espécie, por indivíduos aparentados a ela ou que ocorram na mesma região. Inclusive, as plantas de uma mesma espécie podem se comunicar com “sotaques” diferentes que variam de região para região. Não é incrível? Da próxima vez que estiver em um jardim, uma horta ou um bosque tente imaginar o bate-papo que deve estar rolando entre elas!
Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos
Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.
Matéria publicada em 29.01.2020