Essa é a história da minha família, mas que se parece com a história de várias outras famílias brasileiras.Minha bisavó nasceu no início do século 20, na Ilha da Madeira, em Portugal. Ainda bebê, veio com o meu trisavô e a minha trisavó para o Brasil.O país que eles conheceram era muito diferente do atual. Era uma pátria que tinha acabado de proibir o trabalho escravo, e que começava a viver uma nova forma de governo, a República. Essa nova pátria tinha enormes desafios. Era preciso lutar, por exemplo, pela igualdade de direitos,pela criação de leis, pelo direito de eleger os governantes do país… O que aconteceu com minha família nessa vinda para o Brasil é uma parte da história do nosso povo.
Ilustração Cruz
O Brasil que a família da minha bisavó encontrou logo ao chegar era formado por pessoas das mais diferentes origens. Havia negros, que tinham sido trazidos da África como escravizados mas que tinham conquistado sua liberdade e seus descendentes diretos, também libertos ou nascidos livres. Havia brancos vindos da Europa e pessoas da Ásia para tentar a vida em um novo país. E, claro, havia muita gente descendente da união entre indígenas (os primeiros donos das terras brasileiras!) e brancos, indígenas e negros, brancos e negros – estava em formação o povo brasileiro.
Esse Brasil tinha conquistado recentemente uma grande mudança na sua forma de governo: deixava de ser um Império e passava a ser uma República. No Império, a principal autoridade é o imperador, que, quando morre, é deixa o poder para um filho ou filha. Na República, a autoridade maior do país é o presidente, que governa por um determinado período e depois é substituído por um novo presidente – mas o poder não passa de pai para filho. Pois muito bem:a recém-criada República Federativa do Brasil era um momento novo na história, um momento de enormes expectativas quanto ao futuro do país.
Quando meus trisavós desembarcaram no Rio de Janeiro, o presidente do Brasil era Rodrigues Alves, que garantia que o país teria um futuro grandioso e cheio de conquistas. O prefeito da cidade era Pereira Passos, que prometia uma nova cidade, inspirada em Paris, capital da França. O discurso era bastante animador tanto para quem já morava por aqui quanto para quem estava chegando. Mas…
Leandro Climaco Almeida de Melo Mendonça,
Professor de História do Colégio Pedro II,
Doutor em História,
Programa de Pós-Graduação em História Social,
Universidade Federal Fluminense.
Matéria publicada em 23.11.2018
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