Chegou o grande dia! Pipoca deu à luz oito cachorrinhos: cinco fêmeas e três machos. Enquanto olhava para aqueles lindos filhotes, uma dúvida surgiu: o que faz um animal nascer macho ou fêmea? A resposta está nas células. Mas nem sempre! Em alguns animais, a temperatura é fundamental na hora de definir o sexo dos bichos.
O “manual de instruções” para construir cada pedacinho de um animal é o genoma, e ele é formado por uma molécula chamada DNA. Quase todas as células que fazem parte do corpo de um animal têm dentro de si uma cópia desse manual, organizado em estruturas chamadas cromossomos. Cada cromossomo guarda instruções, como se fossem “capítulos” do manual, para produzir pequenas partes que, juntas, formam e fazem funcionar o corpo. E o seu número varia entre as espécies. Os humanos, por exemplo, têm 46 cromossomos, enquanto os cães têm 78.
É um par especial de cromossomos que define, em muitos bichos, se um indivíduo será macho ou fêmea, dependendo das instruções do seu DNA. Mas o mundo animal é muito diverso e existem bichos sem esse par de cromossomos sexuais. Nesses animais, é a temperatura que define o sexo do filhote.
Quem primeiro descobriu isso foi a cientista francesa Madeleine Charnier, em 1966, estudando uma espécie de lagarto da África. Madeleine percebeu que, dependendo da temperatura na qual os ovos do lagarto eram chocados (ou incubados, para usar um termo científico), os filhotes nasciam de um sexo ou de outro.
Depois de muitos anos de pesquisa, os cientistas descobriram que existem vários animais cujo sexo é determinado pela temperatura de incubação, como os jacarés e crocodilos, a maioria das tartarugas, muitos lagartos e diversos peixes. Durante um período definido, a temperatura do ninho pode ativar diferentes partes do “manual de instruções” no embrião, que fazem com que ele se torne macho ou fêmea.
Quer um exemplo? Os ovos do cágado tracajá dão origem a machos se incubados por volta dos 27 graus. Já acima de 32 graus, só nascem fêmeas. Entre essas duas temperaturas, nascem tanto filhotes machos quanto fêmeas. Não é incrível?
Em algumas espécies, é o contrário: machos são gerados em temperaturas mais altas e fêmeas, nas mais baixas. E, em muitos animais, os cientistas ainda nem descobriram quais temperaturas fazem nascer machos ou fêmeas!
Agora, pense comigo: em um mundo passando por mudanças climáticas, o que pode ocorrer com espécies ameaçadas de extinção, como a tartaruga-de-couro ou o crocodilo-do-orinoco, em que a temperatura decide se nascem machos ou fêmeas? Pesquisar sobre esse assunto é mais do que curiosidade. É importante para a proteção da nossa biodiversidade.
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!
Matéria publicada em 18.12.2025
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