Uma raridade de passarinho

Enquanto caminhava por uma floresta no sul da Bahia, o pesquisador francês Gérard Baudet ouviu um canto muito especial que vinha de uma pequena ave. Saltando para lá e para cá, no chão e em troncos de árvores caídos, o passarinho revirava folhas em busca de seu banquete: insetos e outros pequenos invertebrados. Gérard, completamente encantado, fotografou o animal e gravou sua cantoria por quase uma hora. O francês voltou para casa muito animado e apresentou seu achado a outros pesquisadores: o entufado-baiano. Mas o que será que essa ave tem de tão especial?

O macho (cinza-escuro) e fêmea (marrom-escuro com peito marrom) de entufado-baiano vivem no interior de florestas, onde fazem voos curtos, quase como saltos.
Fotos Alexander Zaidan de Souza

Para explicar essa história direitinho, vamos viajar no tempo…

Nossa primeira parada acontece entre 1831 e 1838, quando o alemão Franz Kaehne visitou Salvador, capital da Bahia. Lá, ele coletou alguns animais que foram levados para o Museu de Berlim, na Alemanha. Entre os animais, havia um passarinho que, empalhado, permanece preservado até hoje.

Anos depois, em 1945, outra ave foi registrada em Ilhéus, sul da Bahia, por Pedro Britto, técnico do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Por muito tempo, os cientistas achavam que o pássaro levado por Franz Kaehne, mais o que foi encontrado por Pedro Britto pertenciam à espécie Merulaxis ater, que hoje pode ser encontrada do sul do Espírito Santo até a região Sul do Brasil e é popularmente conhecida como entufado. O nome Merulaxis vem do francês mérulaxe, “parecido com melro” – o melro é um pássaro Europeu, parente dos sabiás. Já ater quer dizer “preto” em latim.

Maria Clara do Nascimento
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Minas Gerais

Alexander Zaidan de Souza
RPPN Mata do Passarinho
Fundação Biodiversitas

Henrique Caldeira Costa
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora

Matéria publicada em 10.08.2021

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