Como nasceram todas as histórias

Ilustração Cris Eich

No início da criação do mundo, as histórias ficavam todas em um baú, aos cuidados de Nyame, o deus do céu. Sem histórias, a vida na terra era bem triste. Então Ananse, uma criatura metade homem e metade aranha, resolveu ir ao céu buscar histórias para contar.

Alcançar o céu parecia impossível, mas Ananse teceu uma grande teia de prata que ia do chão até o alto. Chegando ao céu, Ananse pediu a Nyame que lhe desse algumas histórias para contar ao povo de sua aldeia. Nyame disse que daria, mas, antes, Ananse precisaria trazer um leopardo de dentes terríveis, um maribondo de picada de fogo e uma fada que nunca ninguém viu. O deus do céu pensava que, com isso, faria aquele ser terrestre desistir da ideia, mas Ananse apenas respondeu:

– Pagarei seu preço com prazer!

Ananse desceu por sua teia de prata e foi logo procurar um leopardo de dentes terríveis. Não demorou a encontrar. Vendo Ananse se aproximar, o leopardo falou:

– Você chegou na hora certa para ser o meu almoço.

Mas Ananse propôs um jogo ao felino, que logo se interessou:

– O que vamos jogar?

E Ananse respondeu:

– Um jogo com cipós. Eu amarro você pelos pés, depois desamarro. Aí, é a sua vez de me amarrar. Ganha quem amarrar e desamarrar mais depressa.

O leopardo gostou da proposta. Ananse, então, amarrou o bicho pelo pé e, quando ele estava bem preso, amarrou-o a uma árvore dizendo:

– Agora, você está pronto para encontrar Nyame!

Depois, Ananse cortou uma folha de bananeira, encheu-a com água e atravessou o mato alto até a casa dos marimbondos. Lá chegando, colocou a folha sobre sua cabeça, derramou um pouco de água sobre si e o restante sobre a casa dos marimbondos e gritou:

– Está chovendo! Vocês não gostariam de entrar na minha cabaça para que a chuva não estrague suas asas?

E assim, juntou marimbondos para Nyame.

Para conseguir cumprir o terceiro pedido, Ananse esculpiu uma boneca de madeira e a cobriu de resina da cabeça aos pés. Pendurou o brinquedo em uma árvore florida, onde as fadas costumam dançar. À frente da boneca, colocou uma tigela de inhame assado e amarrou a ponta de um cipó em sua cabeça. Segurando a outra ponta do cipó, Ananse foi se esconder atrás de um arbusto. Em poucos minutos chegou a fada que ninguém nunca viu. Ela veio dançando, como só as fadas africanas sabem dançar, até os pés da árvore. Lá, avistou a boneca e a tigela de inhame. Olhou para a boneca e disse:

– Estou com tanta fome, poderia dar-me um pouco de seu inhame?

Ananse puxou a sua ponta do cipó para que parecer que a boneca dizia sim com a cabeça. A fada, então, comeu tudo, depois agradeceu. Mas a boneca nada disse. Então, a fada resolveu arrancar a boneca da árvore e ficou com as mãos coladas. Ananse saiu de trás do arbusto e carregou a fada para encontrar Nyame.

Depois de tecer outra imensa teia de prata, Ananse chegou ao céu carregando os três pedidos de Nyame. Chegando lá, disse:

– Eis aqui o preço que você pede por suas histórias.

Nyame ficou maravilhado e chamou todos de sua corte para ouvir seu pronunciamento:

– De hoje em diante e para sempre, as histórias pertencem à terra.

Ananse desceu por sua teia de prata levando consigo o baú de histórias até o povo de sua aldeia. Quando abriu o baú, as histórias se espalharam pelos quatro cantos do mundo, vindo chegar até aqui.

 

Esta é uma lenda da mitologia africana, inspirada em
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ananse e livremente adaptada pela CHC.

Matéria publicada em 28.12.2019

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