Membros descartáveis?!

Para sobreviver ao ataque de predadores, alguns animais podem ter estratégias bem radicais, como se livrar de parte do próprio corpo!

Olha essa situação: você deixou cair algo muito importante no quintal dos vizinhos, num momento em que eles não estão em casa. Você estica o braço pela grade do portão, tentando alcançar o seu precioso objeto, mas se lembra de um detalhe: o cachorro bravo! Você recolhe o braço rapidamente. Afinal, se ele agarra um dedinho seu que seja, não vai brotar outro no lugar, não é mesmo?

Para alguns animais, porém, perder uma parte do corpo não é um problema. Aranhas, polvos, grilos, minhocas, lagartos e peixes são alguns dos animais capazes de praticar a autotomia, que é o comportamento de se desfazer de uma parte do corpo como estratégia de defesa.

A princípio pode parecer loucura, mas se não fosse uma estratégia eficiente não estaria presente em tantos e diferentes grupos de animais. É que, geralmente, as partes do corpo desprendidas são membros, caudas e pedaços da pele, consideradas partes não vitais. Fácil imaginar, por exemplo, que um braço ou perna não deve fazer tanta falta assim para um polvo ou uma aranha, não é mesmo? Outros animais, como lagartos, usam até estratégias adicionais na cauda, como cores chamativas e movimentos bruscos, tentando atrair o ataque dos predadores para essa parte “descartável” do corpo

Para despistar um predador, alguns lagartos soltam a cauda no momento em que são atacados, mas esta cresce novamente em algumas semanas.
Foto gaikokujinkun/Flickr

Além disso, a maioria dos animais que fazem autotomia também possuem a capacidade de regenerar os membros perdidos (as cobras são uma exceção). As campeãs nesse quesito são as salamandras, que podem regenerar as patas, a cauda e até órgãos internos! Há tempos a ciência estuda esses animais tentando aplicar esse conhecimento na regeneração de órgãos e cura de lesões graves em humanos. Nesse caso, a cena imaginada no início do texto não seria tão desesperadora assim, mas ainda é preciso pesquisar muito!

Um tipo de ‘autotomia reprodutiva’ ocorre nos machos de alguns moluscos, como este argonauta, que tem tentáculos reprodutivos especiais que se soltam durante a cópula.
Imagem Biodiversity Heritage Library

vinicius

Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos

Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.

Matéria publicada em 04.12.2019

Seu Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Outros conteúdos desta edição

700_280 att-32316
700_280 att-32313
700_280 att-32303
700_280 att-32383
700_280 att-32437
700_280 att-32333
700_280 att-32285
700_280 att-32370
700_280 att-32430
700_280 att-32379
700_280 att-32414
700_280 att-32357
700_280 att-32393
700_280 att-32407
700_280 att-32419

Outros conteúdos nesta categoria

700_280 att-46778
700_280 att-47318
700_280 att-47173
700_280 att-46966
700_280 att-46749
700_280 att-45398
700_280 att-45152
700_280 att-44775
700_280 att-44068
700_280 att-44492
700_280 att-43697
700_280 att-43644
700_280 att-43178
700_280 att-42949
700_280 att-42756