Guia de turismo em cavernas!

Certa noite, acampado na entrada de uma caverna, o biólogo e monitor de turismo Marcel S. Lunghi teve a barraca “invadida” por duas cuícas, animais que lembram gambás. Elas fuçaram as panelas e comeram os restos de alimentos. Marcel aprendeu a lição: era preciso lavar tudo antes de dormir para não atrair mais cuícas ou animais maiores! Em outra ocasião, durante uma chuva forte, ele se deparou com uma cachoeira de lama na saída de uma caverna! Mas, ufa! Saiu sem se machucar.

O Marcel, que também é espeleólogo (especialista na formação de grutas e cavernas) da Organização não governamental (ONG) Espéleo Grupo Japi, em Jundiaí, São Paulo, compartilhou essas e outras histórias para contar como é o turismo e a exploração em cavernas. Prontos aí? Coloquem capacete, tragam lanternas e… Muita curiosidade para desbravar nessa entrevista!

Ilustração Mariana Massarani

Ciência Hoje das Crianças: O que mais impressiona você nos passeios a cavernas?

Marcel S. Lunghi: Talvez seja a beleza que não encontramos no dia a dia. Gosto muito das passagens estreitas, de vencer o obstáculo e encontrar um grande salão, que esconde formações minerais incríveis! São chamadas espeleotemas, e são lindas, intrigantes, às vezes seculares. Nos salões mais profundos, que chamamos de região afótica, onde já não há luz natural, gosto quando todos desligam suas lanternas por alguns segundos. É a escuridão verdadeira! Não dá para ver nem a própria mão. Mas a imaginação voa.

 

CHC: O que podemos encontrar no turismo de caverna?

MSL: Aventura! E o maior espetáculo é a formação rochosa, isto é, as rochas que formam o solo, as paredes e o teto. Elas apresentam uma característica diferente a cada caverna. E uma história própria que encanta o visitante.

 

CHC: Quantas cavernas existem no Brasil?

MSL: A Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) iniciou o registro de cavernas com o Cadastro Nacional de Cavernas, que conta com 7.907 cavernas (dados de setembro/2019). Já pelo ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), através do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas, temos o Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas, hoje com 19.413 cavidades registradas. Só que menos de 1% é visitável. E as turísticas, que recebem adaptações de segurança e monitoramento de visitas, são menos ainda!

 

CHC: Quais são os moradores mais comuns nas cavernas?

MSL: Os morcegos! Eles utilizam as cavernas como casa, e se abrigam ali durante o dia. À noite, saem em busca de alimento na mata ao redor. Dentro das cavernas, a fauna é bem restrita. Flora também. Normalmente, animais e vegetais se concentram no começo das cavernas, onde ainda há luz do Sol. Temos ainda as “claraboias”, que são aberturas no teto de salões. Elas possibilitam a entrada de luz, formação de vegetação e até a queda de animais que normalmente não estariam lá. Já na região afótica, onde não há mais luz natural, podemos encontrar raras aranhas e opiliões (muito parecidos com aranhas), lacraias e centopeias. E ainda fungos e microrganismos, que podem ser brilhantes ou bioluminescentes, refletindo a luz ou emitindo a própria luz. Garantem um grande espetáculo!

 

CHC: Qual é a importância de estudar as cavernas?

MSL: As cavernas podem abrigar muita história: da própria caverna, da região e da humanidade! Fósseis recentes ou históricos podem ser encontrados. Como são ambientes que consideramos isolados, cada caverna terá características específicas de formações minerais, como estalactites, estalagmites, colunas, cortinas, flores e pérolas. Os estudos são importantes para determinar as características de uma caverna e a importância da preservação. Inclusive para estabelecer se a visitação pode prejudicar aquela formação rochosa. Às vezes, a presença humana, temperatura e gases da respiração já podem destruir a beleza ou a vida encontrada ali.

 

CHC: Qual foi o trabalho mais legal que já fez?

MSL: Já participei de vários trabalhos de exploração e mapeamento de cavernas. Gosto muito da frase da famosa série Star Trek: “Onde nenhum homem jamais esteve”. Durante uma expedição de exploração, encontramos uma pequena passagem de ar e provavelmente água no período chuvoso. Ela estava parcialmente fechada por lama e detritos de rochas. Poderia ser o final da caverna. Poderíamos ter parado. Depois de muito estudo, decidimos escavar. Voltamos outro dia com pá e balde. Depois de três dias de escavação, saímos em um conduto, onde rastejamos até um grande salão, e a caverna continuou. Uma vitória, certamente!

 

CHC: Quais são as cavernas imperdíveis para visita no Brasil?

MSL: No estado de São Paulo, a região do Vale do Ribeira é bem conhecida. Gosto de recomendar o PETAR (Parque Estadual e Turístico do Alto Ribeira). Em Bonito, no Mato Grosso do Sul, temos a famosa Gruta do Lago Azul e a Gruta dos Anjos, e ainda o Abismo Anhumas. Ainda menciono a Torrinha e a Lapa Doce, na Bahia, cada uma com sua singularidade de formação geológica e beleza. Minas Gerais e Goiás também possuem parques com cavernas. Vamos pesquisar e montar o roteiro das próximas férias?

 

Elisa Martins
Jornalista, Especial para a CHC

Matéria publicada em 12.12.2019

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