
Em 1977, as sondas Voyager 1 e 2 levaram para o espaço sideral uma mensagem da espécie humana para outras possíveis civilizações, num gesto de esperança e fraternidade interplanetária. Em vez de uma garrafa, foi utilizado um disco metálico banhado a ouro.
Em 2025, essas sondas já ultrapassaram a incrível distância de 25 bilhões de quilômetros da Terra, fornecendo a nós informações preciosas sobre o Sistema Solar e seus arredores. No disco de cobre banhado em ouro que elas carregam está “tudo” o que se julgava, na época, ser importante sobre a espécie humana, na forma de sons, imagens e escrita, como uma mensagem interestelar para possíveis formas de vida que possam encontrá-las.
O disco está preso na lateral das sondas, protegido por uma capa de alumínio com desenhos que tentam explicar como montar o equipamento para ouvir os sons e acessar as imagens. Se não ocorrerem choques ou acidentes, a mensagem poderia durar de milhões até bilhões de anos.
A ideia do disco veio de um físico da NASA, a agência espacial dos Estados Unidos. Mas o idealizador logo foi substituído pelo famoso cientista Carl Sagan, que liderou uma equipe para escolher, em um curto prazo, as imagens e os sons que seriam enviados caracterizando o ser humano. Para isso, era preciso selecionar um pequeno número de coisas que dariam, a uma civilização interplanetária, a ideia clara de como era o ser humano e a vida na Terra, além de informações sobre a sua localização.
No final, foram selecionadas 116 imagens, trazendo detalhes dos seres humanos, seus gestos e anatomia, estrutura do DNA, além da vida animal e vegetal na Terra, bem como paisagens e arquitetura. Além disso foram incluídos gráficos matemáticos para mostrar as dimensões e a localização do Sistema Solar e de nosso planeta.
Dentre os sons, foram gravadas 55 saudações em línguas antigas e modernas; sons de fenômenos naturais, como trovões, ondas e vento, e de animais, como baleias e pássaros; além de batidas do coração, passos humanos e até um beijo, que, aliás, foi o som mais difícil de se gravar de maneira clara e objetiva. Além disso, cerca de 90 minutos de músicas clássicas e populares, em diversas línguas, integraram a parte sonora da mensagem.
Se você acha que isso foi fácil de escolher, pense em alguns aspectos: foi enviada apenas uma imagem positiva da humanidade. Nenhum aspecto negativo, como guerra, desigualdade, fome, racismo ou crise ambiental, foi mencionado. Também não enviaram informações que poderiam ser usadas contra a humanidade, como as fragilidades tecnológicas, políticas e sociais, quem sabe para evitar uma tentativa de invasão e colonização por uma possível civilização mais avançada.
E você, quais imagens e músicas enviaria ao espaço como representantes da espécie humana? Mas, pense bem, tem que passar “a nossa cara e o nosso jeito” para alguém que não tem ideia de como somos cheios de diferenças.

Eder Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo
Sou paulista, e já nem lembro quando nasci… Sempre fui curioso sobre o porquê das coisas, e desde criança tinha meu clubinho da ciência. Hoje sou professor de Geofísica e continuo xereta e buscando aprender muitas coisas, principalmente sobre a Terra e o Sistema Solar.
Matéria publicada em 21.08.2025