O que você faria se uma manada de elefantes quisesse comer as verduras da sua horta? Imagine a dificuldade que você teria para impedir a aproximação dos grandalhões ou mesmo para afastá-los. O que parece ser uma situação improvável é um problema real para muitas famílias no interior do continente africano que vivem em propriedades rurais nas áreas de savanas.
Os elefantes que ali vivem não diferenciam uma pastagem natural de uma bela plantação de milho, por exemplo, e não pensam duas vezes antes de se banquetear na roça de alguém. Normalmente, ninguém quer fazer mal aos elefantes, que são animais carismáticos e inteligentes, mas, quando eles ameaçam comer toda a plantação de onde uma família tira seu sustento, o jeito é combatê-los.
Para deter os gulosos herbívoros, muitos agricultores apostam em cercas elétricas, cercas de arame farpado ou até mesmo em disparos com armas de fogo. Mas, além de não serem totalmente eficientes, essas estratégias podem ser caras e colocam em risco a vida dos elefantes e de outros animais.
Esse tipo de conflito entre seres humanos e animais é geralmente complexo e parece não haver uma solução em que um dos lados não saia prejudicado. Mas, com inteligência, criatividade e bastante ciência, é possível sim encontrar uma solução menos drástica.
No caso dos elefantes, o jeito foi pensar em algum inimigo natural que pudesse manter esses animais afastados. Leões? Leopardos? Hienas? Não, abelhas! Pesquisadores já tinham observado que os elefantes costumam fugir de enxames de abelhas na natureza. Posteriormente, eles fizeram testes mostrando que apenas o som de um enxame já é suficiente para colocar os grandalhões pra correr. A solução então foi propor aos agricultores se tornarem também apicultores, distribuindo suas colmeias ao redor das plantações.
As “cercas de abelha” são usadas atualmente em propriedades rurais de 17 países da África e Ásia, e constituem um dos métodos mais eficientes para evitar o ataque às plantações, afugentando oito em cada 10 elefantes que tentam se aproximar. Os agricultores ainda conseguem um lucro extra com o mel que produzem, que tem o selo “amigo dos elefantes”.
Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos
Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.
Matéria publicada em 05.12.2024