Nome popular: canela-de-ema-gigante
Espécie: Vellozia gigantea
Tamanho: até seis metros de altura
Classificação: em perigo de extinção
A canela-de-ema-gigante é uma planta bem grande! É a maior espécie da família das Velosiáceas, chegando a atingir seis metros de altura. Pode também ser considerada uma planta rara, porque são conhecidas apenas populações relativamente pequenas, com algumas centenas de indivíduos.
O gênero é chamado popularmente de canela-de-ema, porque a superfície do caule parece com as pernas dessa ave. As folhas ficam apenas na ponta dos ramos, e suas flores violetas são muito grandes e belas, apesar de florescerem por um curto período.
Uma curiosidade sobre esta espécie é que ela resiste ao fogo. Isso porque a base das folhas secas (bainhas) engrossa o caule, protegendo-o. Então, quando vem o fogo, ele passa rápido por essas bainhas, que queimam facilmente, não atingindo a parte central do caule.
A canela-de-ema-gigante é uma espécie endêmica, que ocorre apenas em algumas poucas localidades montanhosas de Minas Gerais, especialmente na Serra do Cipó, na Serra do Padre Ângelo e no Parque Estadual de Sete Salões.
Esta planta vive sobre rochas ou em solos rasos, pedregosos ou arenosos, ou seja, em ambientes sem muita capacidade de armazenar água da chuva. Esse tipo de solo é também muito pobre em nutrientes, especialmente fósforo. Então, como ela vive? E como consegue ser tão grande?
Anote aí: podemos considerar a canela-de-ema-gigante como uma epífita de si mesma. Epífitas são plantas que usam outras plantas como suporte para crescer, mantendo as raízes longe do solo, como acontece com as orquídeas, bromélias e samambaias que crescem no tronco das árvores.
Esse tipo de crescimento requer especializações, como a capacidade de absorver água do ar, da neblina e da chuva. Muitas canelas-de-ema desenvolvem raízes aéreas, próximas das pontas dos ramos, que absorvem os nutrientes e a água que se acumulam nas bainhas das folhas do caule, como fazem as epífitas, apesar de serem plantas terrestres e enraizadas.
As raízes que se fixam no chão se especializaram em dissolver a rocha e também em fazer associações com microrganismos, como fungos e bactérias, facilitando a absorção, o transporte e a reciclagem dos nutrientes, especialmente do fósforo.
Mesmo com tantas habilidades, a canela-de-ema-gigante cresce lentamente: de poucos milímetros a, no máximo, quatro centímetros por ano. Assim, uma planta de seis metros de altura deve ter aproximadamente… Seiscentos anos!
Estudos evolutivos mostram que as Velosiáceas datam de milhões de anos atrás!
Além da importância própria, a canela-de-ema-gigante ainda abriga em seus caules muitas epífitas, principalmente orquídeas, bromélias e samambaias. Essa planta também se encontra associada a fungos que vivem no seu interior, alguns sendo considerados antibióticos e antimaláricos.
Diversos compostos com importância medicinal e cosmética têm sido encontrados em outras espécies de Velosiáceas, inclusive de substâncias antivirais. Como há poucos estudos dessa natureza, a extinção dessa espécie pode fazer com que a humanidade jamais descubra e desenvolva produtos que podem ser importantes. Para se ter uma ideia, as comunidades tradicionais que vivem próximas aos locais de ocorrência dessa planta usam seu caule macerado em solução alcoólica para uso tópico contra dores musculares, e ainda não há estudos sobre isso…
A canela-de-ema-gigante é considerada ameaçada de extinção na categoria “em perigo”, de acordo com Livro Vermelho das Espécies da Flora Brasileira. Apesar de resistente à passagem do fogo, queimadas frequentes podem eliminar os indivíduos menores e mais jovens, impedindo a manutenção da população dessa planta.
Outros riscos à canela-de-ema-gigante são a exploração mineral, a expansão urbana, pavimentação, turismo desordenado e desmatamento. Precisamos desse tipo de informação para planejar estratégias de conservação da canela-de-ema-gigante, não é mesmo?
Alessandra Rodrigues Kozovits
Maria Cristina Teixeira Braga Messias
Livia Echternacht
Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente
Universidade Federal de Ouro Preto
Matéria publicada em 02.05.2025