
Sobreviver ao fogo é um dos grandes desafios enfrentados por fungos, plantas e animais do Cerrado. A savana brasileira é um ambiente sujeito a incêndios frequentes. Por isso, os organismos típicos desse bioma precisaram se adaptar ao fogo, e muitas espécies até dependem dele para sobreviver!
Agora, pense no aperto que passam os pequenos animais, como insetos, para fugir da rápida aproximação e do calor intenso das chamas. No caso daqueles que não podem voar, como os que ainda estão no estágio de larva, sobreviver ao fogo parece uma tarefa impossível. Mas não é!
Uma pesquisa de cientistas brasileiros mostrou que as larvas de uma espécie de gorgulho (um tipo de besouro que tem a cabeça alongada) sobrevivem ao fogo abrigadas dentro das plantas. Mas não é em uma parte qualquer da planta, e sim em estruturas especiais chamadas galhas.

Galhas são tumores, deformações no tecido natural da planta, causados pela presença de parasitas, que, neste caso, são os próprios ovos do besouro. Dentro da galha, enquanto se alimentam de partes da planta, as larvas de insetos estão protegidas de inimigos naturais e de condições ambientais desfavoráveis, como calor ou frio extremos e secas severas. Mas esta é a primeira vez que os cientistas comprovam a eficiência das galhas como abrigo das larvas contra o fogo.
A espécie de gorgulho estudada deposita seus ovos nos ramos da lobeira, um arbusto típico do Cerrado. Os pesquisadores mostraram que cerca de seis em cada dez larvas sobrevivem dentro das galhas, mesmo após a passagem de incêndios intensos. É ou não é um feito incrível para um animal tão delicado?


Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos
Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.
Matéria publicada em 15.12.2025