No passado, à medida que os humanos foram se mudando para novas regiões, passaram a ocupar territórios onde os lobos-cinzentos viviam. Não demorou muito para as matilhas atacarem ovelhas, vacas e outros animais domésticos, despertando a ira dos fazendeiros. Por conta disso, durante séculos os lobos foram considerados inimigos, sendo caçados, e, em algumas regiões, até extintos.
Porém, com o passar do tempo, as pessoas perceberam a importância dos lobos-cinzentos para o equilíbrio da natureza. Assim, medidas foram tomadas para garantir a sobrevivência da espécie e de suas presas naturais, e também para evitar ataques aos rebanhos de fazendeiros.
A má fama dos lobos-cinzentos – injustificada, como você viu – acabou se espalhando para todos os cantos do mundo e chegou até o Brasil. Não existem lobos-cinzentos por aqui, mas nosso país é lar de um parente distante deles, que conhecemos como lobo-guará. Só pelo nome, nosso lobo já mete medo em muita gente… Mas que bobeira!
Os lobos-guarás vivem principalmente em áreas abertas naturais do Cerrado e dos Pampas do Brasil, e em algumas regiões de países vizinhos. Seu nome científico, Chrysocyon brachyurus, nos diz um pouco sobre suas características – em grego, significa “cão dourado de cauda curta”, e combina com o animal de pelagem alaranjada e cauda pequena se comparada com o resto do corpo. Já as orelhas são longas e as pernas são bem compridas, o que faz os lobos-guarás parecerem um tanto desengonçados.
Muita gente acha que “lobo-guará” significa “lobo-vermelho”, mas não é não! Os indígenas conheciam esses animais como aguará-guazú (o aguará grande) – nome pelo qual ainda são chamados em outros países onde ocorrem. Aguará (que depois virou guará) é uma palavrinha misteriosa, que os pesquisadores não sabem direito como surgiu. Alguns, porém, acreditam que possa ser uma variação de jaguara (“fera”).
As aparências enganam, e os lobos-guarás são feras bem tranquilas. Eles não vivem em matilhas, mas sozinhos, e só se encontram com outros da mesma espécie na época da reprodução. Além disso, enquanto seus “primos” lobos-cinzentos podem caçar grandes presas, os lobos-guarás preferem comer pequenos animais como roedores, e, acredite, muitas frutas!
A preferida deles é a fruta da lobeira, uma planta nativa da América do Sul. As lobeiras e os lobos-guarás participam de uma relação chamada mutualismo, onde as duas espécies se ajudam: as lobeiras fornecem frutos que são consumidos pelos lobos, e os lobos liberam em suas fezes as sementes das plantas, ajudando para que germinem novas lobeiras por onde passam.
Agora que você conhece um pouco mais sobre o Chrysocyon brachyurus, pense aí: será que Chapeuzinho Vermelho teria problemas se visse um lobo-guará no caminho para a casa da vovó?
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!