A Família Fermento

*Luiz Bras e Tereza Yamashita

Ilustração Bruna Assis Brasil

O caçula é o que mais sofre, o caçula é sempre o mais enganado. Que cara é essa? Não acredita em mim? Por exemplo, veja o caso da Zezé Fermento. Ela, que tem seis anos, é a irmã caçula do Juca, que tem onze. 

Mas a história não para por aí, não. Sabe por quê? Porque, além do Juca, a Zezé tem mais vinte irmãos maiores! Dá para acreditar nisso? Vinte! A Estrela, o Zico, a Graça, o Guto, a Siriema, o Bochecha, a Júlia, o Pato, a Salete, o Meio Quilo, a Diana, o Chulé, a Verruga, o Artur, a Laura, o Palito, a Tânia, o Catatau, a Kyoto e o Quiabo. 

Vem cá que eu vou te apresentar um por um. Respira fundo, porque lá vamos nós! 

O Juca tem onze anos, isso eu já disse, e é o intelectual da família. Vive lendo livros e assistindo documentários na Netflix, e agora até faz pesquisa com o ChatGPT. Na escola, em todas as matérias, só tira dez.

A Estrela tem dez anos, gosta de tocar violão e cantar. Sabe tirar música só de ouvido e diz que qualquer dia desses vai participar de um reality show.

O Zico também tem dez, detesta beterraba e pepino. Só come carne, de tudo quanto é tipo: branca, vermelha, amarela, da cor do arco-íris. Jura que vai ter uma fazenda de gado e gosta de assistir a rodeios. 

A Graça também tem dez, adora beterraba e pepino. Curte muito cozinhar, ou melhor, inventar tipos diferentes de saladas, com isso e aquilo. Na cozinha, ela deixa a mãe doidinha. 

O Guto também tem dez e é o mais alto de todos. Quer ser jogador de basquete ou de vôlei. Só assiste aos canais de esporte e não tira a camisa do Brasil. Diz que vai para as Olimpíadas representar o país. 

A Siriema também tem dez e é a mais vaidosa. Vive trocando de roupa e adora acompanhar revistas online de moda e seguir o Instagram de garotas fashion

O Bochecha tem nove e sempre “se esquece” de dar a descarga antes de sair do banheiro. Ele afirma categoricamente que é para economizar água, mas a família sabe que é por pura preguiça.

A Júlia também tem nove e gosta de história em quadrinhos. Adora desenhar e está sempre com seu bloco de desenho debaixo do braço. A toda hora ela está rabiscando algo. 

O Pato também tem nove e, quando crescer, quer ser astronauta. Ele curte tudo quanto é tipo de nave e de máquina futurista. À noite fica observando as estrelas e jura que um dia viajará pra Lua. 

A Salete também tem nove, dorme cedo e acorda cedo. Tem hora pra tudo e pra todos. Vive consultando o relógio do smartphone novo que ganhou no Natal.

O Meio Quilo também tem nove, dorme tarde e acorda tarde. Ele adora ver Netflix de madrugada (sem que o pai e a mãe saibam, é claro). Assim ele pode ver os filmes de terror… 

A Diana tem oito e às vezes fica uma semana com a mesma roupa. Ela é meio desligada, esquece tudo, até de trocar de roupa. Só não esquece a cabeça porque está grudada no corpo. 

O Chulé também tem oito e não troca as meias se a mãe não obrigar. Todo mundo tapa o nariz quando ele tira o tênis, o chulé é demais! Mas o cara finge que não é com ele. 

A Verruga também tem oito e odeia desenho animado. Tudo porque ela acredita que, depois que apontou o dedo para a tevê (para o Bart Simpson), nasceu uma verruga na ponta do seu dedo. Ela começou a odiar o Bart e agora odeia tudo o que é animação. 

O Artur também tem oito e queria ter nascido indígena. Ele é galego, a pele é branca de dar dó. Por isso ele queria ser indígena e poder tomar sol, correr pelas matas e, na praia, não ficar vermelho igual a um pimentão melecado de protetor solar.

A Laura também tem oito e diz que é descendente de um povo originário de verdade, só pra irritar o irmão. Ela é morena e seu cabelo é preto e comprido. Depois que ganhou de um amigo indígena um colar com uma linda pena, ela diz orgulhosa que é descendente direta dos guaranis.

O Palito tem sete e não sabe contar piada. Ele vive decorando um livro só de piadas e memes da internet. O pior é que o coitado treina, treina, mas na hora agá ou esquece ou conta a piada correndo, sem ritmo nem graça. Mas jura que um dia vai arrebentar como humorista na tevê. 

A Tânia também tem sete e ri de qualquer besteira. Ela tem a risada mais gostosa do mundo: leve, solta e contagiante. Todos dizem que ela tem uma cabecinha de borboleta e por isso ri de tudo. Às vezes até dela mesma. 

O Catatau também tem sete e nunca ri. Ele é o oposto da Tânia. Franzino e tímido, jamais esboça mais do que um pequeno sorriso de canto de lábio. Parece que carrega o mundo nas costas, dentro de sua mochila. Está sempre pensativo e só ri pra mãe (mesmo assim, um sorrisinho amarelo). 

A Kyoto também tem sete e coleciona latas de refrigerante. Pra falar a verdade, ela coleciona de tudo, mas seu hobby principal é colecionar latinhas de refrigerante. Ela diz que um dia vai criar algo com elas, mas ainda não sabe o quê. 

O Quiabo também tem sete e adora bichos, principalmente gatos. Ele afirma que vai ser jurado de concurso de gatos, pois conhece todas as raças. Ele tem um manual que trata de todas as raças de felinos, com um monte de fotos, gráficos e tabelas. 

E a Zezé, que como eu já disse tem só seis aninhos. É a “irmã caçula cabeça-dura”, como dizem. Ela vive com as antenas ligadas e sempre se mete em encrenca com o irmão. Tem imaginação hiperfértil, é desconfiada e inteligente. 

Sei que você não está entendendo direito essa história, mas a explicação é muitíssimo simples: essa meninada toda foi adotada pela Fernanda e pelo Frederico Fermento. Vejam só que sobrenome: Fermento! É claro que com esse sobrenome a família só podia crescer. 

E como cresceu! Muito tempo atrás, o Fred e a Fê, assim que se casaram e perceberam que não podiam ter filhos, trataram logo de adotar um casal: a Kyoto e o Quiabo. Gostaram tanto da experiência que decidiram não parar por aí. Foram adotando, adotando, adotando… Em pouco tempo, tinham dois times de futebol em casa. Ainda bem que a casa é grande e não têm que dormir todos no mesmo quarto. Já imaginou o caos?!

*Luiz Bras e Tereza Yamashita são escritores e autores em conjunto de diversos livros. Eles também trabalham juntos com design gráfico e ilustração. São casados há trinta e quatro anos (têm uma filha da qual se orgulham muito!) e moram em São Paulo entre chuvas e arranha-céus. Este conto foi retirado do livro A família fermento contra o supervírus de computador, da Atual Editora, do grupo Somos Educação.

Matéria publicada em 04.07.2023

Comentários (11)

  1. Querid@s, Cathia e Bianca! Abraços Dobrados Agradecidos e Honrados. Adoramos a ilustradora também! Bjus no coração! Mãos e Mente em Movimento!

  2. E como cresceu !Muito tempo atras , o Fred e a Fe , assim que se cansaram e perceberam que nao podiam ter filhos , trataram logo de adotar um casal : a Kyoto e o Quiabo.Gostaram tanto da experiencia que decidiram nao parar por ai . Foram adotando ,adotando…Em pouco tempo , tinham dois times de futebol em casa.Ainda bem que a casa e grande e nao tem que dormir todos no mesmo quarto .Ja imaginou ?

  3. Maria Fernanda de Azevedo Guariento

    A família Fermento é grande e muito bonita, eles se respeitam e aprenderam a amar um aos outros com seus defeitos e qualidades.

  4. Esse foi minha primeira leitura do seu sait mas de cara ja amei?

  5. Alexandra Sandra de Oliveira da Silva

    Que história linda, nunca é tarde pra doar o amor, filhos do coração!!!???

  6. Oi EU SOU A Alícia Li TODAS AS Reportagens

  7. achei bem engraçado e legal a história quando tava lendo não parava de rir?

  8. Olha eu acho que o elefante n come tomate porque me ocorreu amanhã

  9. ASSOCIACAO DE PAIS E MESTRES DA E E HONORATO FAUSTINO ASSOCIACAO DE PAIS E MESTRES

    Que família linda! Parece nossa sala de aula, bastante gente diferente cada um com seu brilho! Abraços 4b 2023 HF

  10. Eu e minha mãe lemos e amamos…muito criativo os nomes e a história, parabéns aos escritores e ilustradores.

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