Você já leu um livro inteiro?

Alguém já perguntou se você gosta de ler? Já insistiram para você ler um livro inteiro? Já lhe disseram que ler é importante ou que faz bem por algum motivo? Será que é verdade? O que você acha? Cientistas, muitas vezes, começam suas pesquisas com uma ideia sobre algo que “acham” que vão descobrir. Com relação à leitura, o que você acha que a ciência já descobriu?

Ilustração Bruna Assis Brasil

Quando cientistas iniciam uma pesquisa, começam uma investigação sobre algo que “acham” que vão descobrir – isso se chama hipótese. E muitos estudos são necessários para que uma hipótese seja comprovada ou abandonada. Há muito tempo as pessoas acham que ler é importante, que as pessoas que leem conhecem mais palavras, sabem mais coisas e pensam de um jeito diferente das pessoas que não leem. Será?

Esses “achismos” em relação aos efeitos da leitura se tornaram hipóteses de pesquisa. E o que os cientistas fizeram? Elaboraram testes e experimentos para medir o número de palavras que as pessoas conhecem, o tempo que elas necessitam para ler um conjunto de palavras, e a capacidade de compreender um texto e de captar ideias que não estão no texto, mas são sugeridas por meio, digamos, de um jogo de palavras – por exemplo: “O cachorrinho virou uma estrela”, que é uma forma mais suave de se dizer que o animal morreu.

Comprovações!

As pesquisas puderam comprovar que quanto mais as pessoas leem, mais elas desenvolvem a memória de palavras. Por quê? Porque, além das palavras que usam nas conversas do dia a dia, elas armazenam na memória as palavras que encontram nos livros. 

Outra descoberta importante é que as palavras não ficam misturadas no cérebro, elas se organizam em redes semânticas, ou seja, em redes de significados. Além disso, se ligam a outras memórias – por exemplo: em que situações tal palavra é usada? Quais as palavras que costumam acompanhá-la? Se trocar essa palavra por outra parecida, será que o significado da frase ou do texto continua o mesmo?  

Até o final do século 20, boa parte das pesquisas sobre os efeitos da leitura na forma como as pessoas pensam era baseada em evidências comportamentais. Isso quer dizer que os cientistas observavam o comportamento das pessoas em diferentes tarefas e comparavam pessoas que não sabiam ler, pessoas que haviam aprendido a ler depois de adultas, pessoas que liam pouco, que liam em mais de uma língua, que só liam anúncios e textos curtos, pessoas que liam livros… 

Perto da virada do século 20 para o 21, aconteceu uma revolução tecnológica nos estudos sobre o cérebro humano, porque os pesquisadores começaram a olhar o cérebro por dentro, graças às imagens obtidas por ressonância magnética funcional. Parece complicado, mas não é!

Imagens reveladoras

Esse tipo de pesquisa que usa exames de imagem por ressonância considera que, quando o nosso corpo precisa de mais energia, ele consome mais oxigênio. Como quem carrega o oxigênio dentro do corpo é o sangue, logo… onde o cérebro está mais ativo há mais sangue, porque há mais consumo de oxigênio. Assim, as imagens da ressonância mostraram diferenças no fluxo sanguíneo do cérebro entre pessoas que leem e pessoas que não leem, ou leem pouco. 

As pessoas que leem muito, por exemplo, parecem ouvir a linguagem com os olhos. Opa! Como é isso? Na verdade, quando lemos, nossos olhos captam as informações visuais, e um conjunto de neurônios – as células do cérebro, que estão sempre conectadas umas às outras – levam essas informações até a parte de trás do cérebro, onde tudo o que vemos é processado. Rapidamente, os neurônios separam o que é para ser lido e outras coisas que vemos (objetos, rostos etc.). O que é para ser lido é direcionado para uma região mais à esquerda da parte de trás do cérebro, que se conecta diretamente com as regiões responsáveis pelo processamento da linguagem. Então, numa fração de segundo, aquilo que foi lido ativa memórias e produz pensamentos. E tudo isso pode ser demonstrado nos exames de imagem.

Com esses mesmos exames foi comprovado também que as pessoas que não aprenderam a ler olham para as letras como se olhassem para riscos sem significado, por isso não ativam as regiões da linguagem e não produzem pensamentos associados ao texto.

Quando lemos atualizamos nossas capacidades de memória e raciocínio.
Foto Freepik

Trocando em miúdos

A leitura e a escrita são tecnologias inventadas há cerca de 5 mil anos, e transformaram a forma como nós, humanos, guardamos e processamos informações dentro de nossos cérebros. Com o passar do tempo, o armazenamento de muitas informações foi sendo passado para livros e, mais recentemente, também para computadores, celulares e outros dispositivos eletrônicos. 

Quando lemos, seja um livro de papel, uma revista ou textos em qualquer dispositivo, é como se turbinássemos o nosso cérebro, fazendo uma espécie de atualização constante das nossas capacidades de memória e raciocínio.

E para você que leu este texto até aqui, voltamos a perguntar: qual a sua opinião sobre a leitura? Ela é mesmo importante? Faz bem? Por quê? Ah! Já leu um livro inteiro?

Rosângela Gabriel
Programa de Pós-graduação em Letras
Universidade de Santa Cruz do Sul
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul

leitura_3

Matéria publicada em 02.09.2024

Comentários (4)

  1. Somos alunos do 4º Ano D, da escola municipal Zenóbia Gregório Campelo Cabral, em Mirante do Paranapanema, nós gostamos de saber que podemos turbinar nosso cérebro através da leitura, e pretendemos ler mais.

  2. Alunos do 3º ano B - EMEF "Professor Olímpio Cruz" - Marília SP

    A professora leu a reportagem sobre “Você já leu um livro inteiro?” e achamos muito interessante, pois desperta ainda mais o interesse pela leitura, sabendo que o cérebro de quem lê funciona muito melhor.
    Na nossa escola temos uma biblioteca com muitos livros e nós podemos ler e levar para casa. Temos também a plataforma do “Elefante Letrado” onde podemos ter acesso a uma biblioteca digital com diversos livros.
    Fizemos um teste de leitura parecido com o que foi mencionado na reportagem. Nesse teste tivemos que ler diversas palavras, frases e um pequeno texto para realizar a interpretação. Ao final recebemos o resultado da nossa fluência leitora.
    Realmente, ler é muito importante!
    Ah e nós já lemos muitos livros inteiros.
    Um grande abraço
    Alunos do 3º ano B

  3. Carlos Eduardo Mendes Velasco

    Sim,adorei aquele livro 📖 esse vou gostar muito mais dele

  4. Jundiaí, 05 de setembro de 2024

    Boa tarde, amigos da revista CHC. Nós somos os alunos do 3 º ano E, da E.M.E.B. “Ivo de Bona”. gostamos muito do artigo: Você já leu um livro inteiro? A pesquisadora Rosangela Gabriel, neste artigo, informou sobre o funcionamento do cérebro de pessoas que gostam de ler muito. Descobrimos que ao ler ativamos partes muito importantes para o bom funcionamento cerebral. A nossa professora, sempre nos falou que a habilidade leitora é um super poder! Pois ao ler somos capazes de aprender qualquer coisa. Muito obrigada! Aqui em Jundiaí além de bons livros temos, biblioteca nova e também podemos acessar a plataforma do Elefante Letrado. É uma plataforma maravilhosa! Parabéns aos pesquisadores e editores da revista CHC.
    Muito obrigada pelo artigo e aguardamos por mais artigos sobre a leitura. Um abraço dos alunos do 3º ano E e da professora: Luciana Leite Lima

Seu Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Outros conteúdos desta edição

700_280 att-47051
700_280 att-46922
700_280 att-46956
700_280 att-46946
700_280 att-46888
700_280 att-46912
700_280 att-46936
700_280 att-46933
700_280 att-46893
700_280 att-46896
700_280 att-46941
700_280 att-46901
700_280 att-46908

Outros conteúdos nesta categoria

700_280 att-46922
700_280 att-46956
700_280 att-46672
700_280 att-46556
700_280 att-46676
700_280 att-44845
700_280 att-45778
700_280 att-45718
700_280 att-44616
700_280 att-44607
700_280 att-45300
700_280 att-45091
700_280 att-44433
700_280 att-45129
700_280 att-44883