
Nome popular: Cobra-de-pé.
Espécie: Heterodactylus lundii Reinhardt & Lütken, 1862
Tamanho: Cerca de 6 centímetros de comprimento (entre a ponta do focinho e a cloaca)
Classificação: Vulnerável (IUCN)
Olha a cobra! É mentira!
Embora seja chamado cobra-de-pé, o animal em destaque neste texto não é uma cobra de verdade. Visto de perto, ele tem patinhas reduzidas, mas como é o corpo alongado que chama mais a atenção, acaba sendo confundido com uma serpente. Juntando tudo, saiu o seu nome popular.
Além das patinhas, a cobra-de-pé tem uma coisa que as cobras de verdade não têm: pálpebras! Quer saber mais? Ela tem um truque: quando se sente ameaçada, solta a cauda para despistar o predador, assim como fazem as lagartixas.
Se tem pés e solta a cauda, será que estamos falando de um lagarto? A resposta é… sim!
A cobra-de-pé tem apenas seis centímetros de comprimento corporal, e sua cauda, que se regenera parcialmente depois de cortada, consegue chegar ao dobro do seu tamanho corporal. Ela vive no topo de montanhas de Minas Gerais, a mais de 900 metros de altitude, em ambientes chamados campos rupestres. Por serem locais elevados, a vegetação, o clima e até o solo dos campos rupestres são diferentes. O chão é cheio de pedras, as plantas são rasteiras e o clima é mais seco.
Esses locais são bem mais abertos do que uma floresta, o que também influencia na quantidade de radiação solar e na umidade no ambiente. Por isso, tanto os animais quanto as plantas dos campos rupestres são adaptados para conseguirem sobreviver lá, e muitas vezes só são encontrados nesses locais, como é o caso da nossa cobra-de-pé.

Como todos os lagartos, a cobra-de-pé é um animal ectotérmico, ou seja, depende do calor do ambiente para regular a temperatura corporal e, por isso, aproveita o período diurno para se alimentar. Mesmo à luz do dia, ela não é um animal tão fácil de se avistar. Sua dieta é composta por pequenos insetos, como os cupins. Para procurar alimento e se proteger do calor excessivo, esse lagartinho se esconde muito bem entre frestas de troncos e raízes de árvores, em cupinzeiros ou embaixo de pedras e folhas secas no chão.
Essa espécie é pouco conhecida e é considerada sob risco de extinção por viver em áreas geograficamente restritas. Sua principal ameaça é o fogo que atinge o Cerrado, bioma onde ela vive. O fogo no Cerrado acontece naturalmente devido à vegetação seca do ambiente, mas tem aumentado cada vez mais por conta do desmatamento provocado pelos seres humanos.
Estudos recentes mostram que a cobra-de-pé representa um grupo de espécies ainda desconhecido da ciência. Isso significa que seu nome não é dado a uma única espécie, mas a várias espécies consideradas “irmãs”, de tão parecidas!
Para que se possa pesquisar esses pequenos lagartos e conhecer sua importância ecológica, é preciso que eles existam; logo, precisamos de ações de conscientização e conservação ambiental. Você gostaria de colaborar de alguma forma? Então divulgue a história da cobra-de-pé entre seus parentes e amigos. Será que na escola vocês conseguem pensar em uma campanha?
Larissa Magalhães Ferreira da Cunha
Paulo Passos
Departamento de Vertebrados
Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro
Matéria publicada em 01.12.2025