A viagem de Einstein ao Brasil

Parece que o melhor título para este texto seria “As viagens de Einstein ao Brasil”, porque o cientista mais famoso de todos os tempos esteve em território brasileiro duas vezes! As duas viagens aconteceram no mesmo ano, 1925. Mas ele veio de férias? A trabalho? Quanto tempo passou? Quais lugares visitou? Todas essas perguntas serão respondidas agora mesmo!

Ilustração Daniel Bueno

O ano de 2025 marca o centenário da visita, ou melhor, das visitas do físico alemão Albert Einstein ao Brasil. Digamos que a primeira vinda foi assim num piscar de olhos, porque ele só passou um dia em território brasileiro. 

Em 21 de março de 1925, o navio em que Einstein viajava para a Argentina fez uma escala. Foi então que o cientista desembarcou no porto do Rio de Janeiro. Ele foi recebido por jornalistas, que o entrevistaram, além de cientistas e membros da religião judaica, a mesma da sua família.

Famosíssimo como já era, Einstein foi convidado para um passeio durante o período em que seu navio ficaria ancorado. Saiu em uma comitiva de sete carros em direção ao Jardim Botânico, circulou pela cidade e terminou em um almoço oferecido pelo jornalista brasileiro Assis Chateaubriand, no Hotel Copacabana Palace, recém-inaugurado. 

Apesar do calor, Einstein ficou encantado com a cidade e a recepção recebida. Em seu diário de viagem, escreveu: Jardim Botânico, bem como a flora de modo geral, supera os sonhos das 1.001 noites. Tudo vive e cresce a olhos vistos por assim dizer”.

Imagem da chegada de Einstein no porto do Rio de Janeiro.
O Malho, 28/03/1925, Biblioteca Nacional

De volta!

A segunda viagem do famoso físico alemão ao Brasil foi mais longa. Começou em 4 de maio de 1925 e durou uma semana. Ele novamente desembarcou no porto do Rio de Janeiro, depois de ter passado um mês na Argentina e uma semana no Uruguai. 

As longas viagens de Einstein eram motivadas pelo desejo de conhecer outras culturas, discutir física com cientistas de outras regiões, conseguir apoio para a construção da Universidade Hebraica de Jerusalém, falar sobre a importância da paz e dos riscos de uma nova guerra na Europa, ou apenas se refugiar do difícil período após a Primeira Guerra Mundial. 

Embora estivesse cansado, ele se animou quando chegou ao Rio de Janeiro pela segunda vez e escreveu: “Chegada ao Rio ao pôr do Sol e tempo fabuloso. Ilhas graníticas de formas fantásticas estão a pouca distância”. 

Agenda de cientista

Einstein ficou hospedado no Hotel Glória, inaugurado em 1922 durante as comemorações do centenário da Independência do Brasil. O físico combinou com seus anfitriões alguns compromissos durante a sua permanência: duas palestras sobre a teoria da relatividade (um dos seus principais estudos), visita a instituições de pesquisa e ao presidente da República, na época, Artur Bernardes. 

A primeira palestra foi no Clube de Engenharia. O salão estava superlotado, muitos engenheiros acompanhados de suas famílias, um público diverso. Para a segunda palestra, na Escola Politécnica, foram tomadas providências para limitar o público, dando prioridade àqueles que tinham assistido à primeira. 

Cumprindo sua agenda, Einstein visitou a Academia Brasileira de Ciências (ABC), onde palestrou sobre as experiências sobre o comportamento da luz, que estavam em curso na Europa. Foi também ao Museu Nacional, Instituto Oswaldo Cruz e Observatório Nacional, principais instituições científicas da cidade.

Einstein no Museu Nacional.
Foto Wikimedia Commons
Einstein com cientistas no Palácio do Mourisco, Instituto Oswaldo Cruz.
Arquivo da Casa de Oswaldo Cruz
Einstein com cientistas no Observatório Nacional.
Acervo MAST

Um lugar marcante

No Observatório Nacional, Einstein esteve com astrônomos que tinham participado da observação do eclipse de 1919, em Sobral, que comprovou sua teoria: a luz faz um pequeno desvio quando passa próxima de  corpos muito grandes. 

O físico ouviu que os brasileiros tinham orgulho do fato de a teoria da relatividade ter sido comprovada no Brasil. Para marcar este momento, ele escreveu em um guardanapo de restaurante: “A pergunta que minha mente formulou foi respondida pelo ensolarado céu do Brasil. Albert Einstein, 1925”.

Ele visitou ainda o laboratório montado pelos irmãos Álvaro e Miguel Ozório de Almeida na casa deles, onde realizavam importantes pesquisas em fisiologia. Foi também no Hospital dos Alienados (sucessor do antigo Hospício D. Pedro II), dirigido pelo médico Juliano Moreira. Ele se interessou especialmente pelos casos de paranoia (um sintoma que pode caracterizar uma doença mental), provavelmente, por causa do problema psiquiátrico de seu filho mais novo, Eduard.

Cientista turista

Einstein também teve tempo de cumprir agenda turística. Andou no bondinho do Pão de Açúcar, passeou pelo bairro de Santa Teresa e pelos morros que cortam a cidade. Subiu de trem até o Corcovado, onde ainda não havia a estátua do Cristo Redentor (só instalada em 1931), mas tinha a bela vista da cidade.

Retomando os compromissos mais formais, fez uma visita ao presidente da República, Artur Bernardes, e ministros. Esteve ainda na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), onde recebeu uma caixa com uma coleção de pedras preciosas brasileiras, reunidas a partir de uma campanha de arrecadação de fundos promovida por Assis Chateaubriand. E falou ao microfone da Rádio Sociedade, a primeira rádio do Brasil, criada pelo físico Henrique Morize e pelo antropólogo Edgard Roquette-Pinto.

À noite, sozinho em seu quarto de hotel, Einstein fez a última anotação em seu diário de viagem: “Finalmente, jantar no hotel, oferecido pelo embaixador alemão. Depois, ainda muitas cartas e autógrafos. Finalmente, livre; porém, mais morto do que vivo”. Ele devia estar mesmo muito cansado!

Volta à Europa

Einstein deixou o Brasil na segunda-feira, 11 de maio, embarcado no navio Capitão Norte, em direção à Alemanha. O tempo total fora de casa foi de três meses. 

Apesar de cansativa, de uma forma geral, a viagem, ou melhor, a visita ao Brasil do mais famoso cientista de todos os tempos serviu para evidenciar a importância da pesquisa básica (chamada ‘ciência pura’, na época), feita para expandir o conhecimento. 

Sua breve passagem por terras brasileiras rendeu muitos frutos! Menos de uma década após a visita, foram fundados dois importantes espaços acadêmicos: em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo, tendo como centro sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras; no ano seguinte, a Universidade do Distrito Federal, cujo núcleo era sua Faculdade de Ciências. 

Valeu a visita, Einstein!

Alfredo Tolmasquim
Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST)

Matéria publicada em 01.12.2025

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