Presente mais que especial

Não é sempre que a gente ganha um fóssil de presente. Mas aconteceu comigo, perto do Natal de 2014. Um jovem chegou ao Museu de Paleontologia de Marília, no estado de São Paulo, onde trabalho, dizendo que tinha em casa um fóssil de dinossauro, encontrado por seus pais em 1996 numa chácara em Presidente Prudente, também no interior paulista.

Sua mãe, que estava de mudança da chácara para a cidade, sabia da importância científica do fóssil, por isso, desejava doá-lo para uma instituição que pudesse cuidar bem dele. Ouvi a história com atenção e lembrei que, em algum lugar do passado, eu já tinha lido sobre um caso semelhante. Afinal, se uma pessoa tiver olhar atento e curiosidade, também pode descobrir um fóssil.

Quando recebi, o osso estava fragmentado em várias partes. Com cuidado, consegui montar o quebra-cabeças e este foi o resultado! (imagem cedida pelo autor)

Quando recebi, o osso estava fragmentado em várias partes. Com cuidado, consegui montar o quebra-cabeças e este foi o resultado! (imagem cedida pelo autor)

Como apaixonado por dinossauros e paleontologia desde os 13 anos, tenho o hábito de colecionar artigos de jornais e revistas que falem sobre achados de fósseis pelo mundo afora. Comecei na década de 1970 e tenho mais de mil recortes. Vasculhando minha coleção, encontrei uma matéria do jornal Folha de S. Paulo publicada no dia 8 de março de 1996, que contava uma história muito parecida à do rapaz que me visitou no museu.

Quando contei ao jovem, ele ficou animado. Combinamos, então, de eu fazer uma visita à chácara em Presidente Prudente para buscar o fóssil.

Em janeiro de 2015, fui à casa de dona Augusta de Jesus para conhecê-la e receber o material. Os fragmentos eram pedaços grandes e quase uma centena de pequenos restos ósseos. Era mesmo o fóssil descrito naquela matéria de jornal!

Reconstituição de um titanossauro. O osso em vermelho é o úmero, que dona Augusta de Jesus encontrou na chácara. (imagem cedida pelo autor)

Reconstituição de um titanossauro. O osso em vermelho é o úmero, que dona Augusta de Jesus encontrou na chácara. (imagem cedida pelo autor)

Agradeci à simpática senhora pelo gesto e voltei ao museu com o fóssil na bagagem. Então, foi a hora de remontar o osso de dinossauro. Deu um certo trabalho, mas consegui ter uma ideia do que se tratava: um úmero, osso do braço, pertencente a um titanossauro – dinossauro herbívoro e quadrúpede que viveu em porções terrestres do que é hoje a América do Sul, durante o período Cretáceo (entre 65,5 e 145 milhões de anos atrás).

O material agora faz parte do acervo do nosso museu, junto a outros fósseis de dinossauros encontrados em Marília e no oeste paulista, e ajuda a enriquecer nosso conhecimento sobre a pré-história da região. Quem quiser, pode visitá-los. Você aceita o convite?

Museu de Paleontologia de Marília
Avenida Sampaio Vidal, 245, Centro, prédio da Biblioteca Municipal, Marília, São Paulo
De segunda a sexta, das 8h às 12:30h e das 13:30h às 17:30h
Informações: (14) 3413-6238

Matéria publicada em 01.04.2015

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William Nava

Paleontólogo, realiza escavações em busca de fósseis em Marília e cidades da região. Suas descobertas ajudam a contar um pouco sobre o passado remoto do nosso planeta.

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