Imagine a cena: você está observando árvores em meio à floresta amazônica, quando se depara com jabutis lá no alto dos galhos. Hein? Desde quando jabuti sobe em árvore? Pode parecer um comportamento muito estranho para um animal terrestre e com fama de preguiçoso, mas vários jabutis foram observados no alto das árvores em regiões alagadas da Amazônia.
Nas chamadas florestas de várzea, que ficam cheias d’água (cheias mesmo: a água atinge profundidades de mais de dois metros!) durante quase cinco meses ao ano, essa foi a forma que os jabutis-amarelos encontraram para sobreviver ao período molhado. O comportamento, observado pela primeira vez na natureza, foi tema de uma pesquisa do Instituto Mamirauá, coordenada pela bióloga Thaís Morcatty.
Ela contou à CHC que o estudo foi realizado na região onde se encontram dois grandes rios amazônicos, Japurá e Solimões. São mais de 7 mil quilômetros quadrados de floresta inundada, sem ligação com a terra seca – apenas uma amostra dos 400 mil quilômetros quadrados das florestas de várzea da Amazônia. Nos períodos de cheia, a equipe percorreu a região de canoa, procurando pelos répteis flutuando, nadando ou em cima de galhos.
Os cientistas ficaram surpresos ao descobrir que os jabutis-amarelos se adaptaram bem às inundações e conseguem abrigo e alimentação mesmo nos períodos de cheia. Segundo Thaís, talvez existam mais animais dessa espécie na várzea do que na terra seca! Além disso, verificaram que esses animais podem nadar longas distâncias.
“Encontrar os jabutis-amarelos em ambiente de várzea é uma grande descoberta tanto para a ciência quanto para a sociedade”, comemora Thaís. “A maior surpresa foi não só a capacidade do jabuti em nadar bem, mas principalmente em conseguir viver nesse ambiente, onde outros animais terrestres estão ausentes, mesmo aqueles com boa capacidade de natação, como anta, veado e paca”.
Ela explica que outros quelônios, parentes dos jabutis, como as tartarugas marinhas e os cágados, possuem adaptações para o ambiente aquático, como corpo mais achatado e nadadeiras ou membranas entre os dedos. Mas o jabuti não apresenta nenhuma dessas características! “É surpreendente que ele sobreviva bem tendo que viver na água durante tanto tempo, ano após ano”, destaca a pesquisadora. Em outra pesquisa, o Instituto Mamirauá já verificou que as onças-pintadas também se penduram pelos galhos na época das cheias. Pelo visto, a bicharada se adapta muito bem a esse ambiente inusitado!