Tupã, o “pai que está no alto”, gosta de ficar sentado em um banquinho, de onde contempla o que acontece na terra. Mas, de vez em quando, também sente saudades de sua mãe, Nhandecy, e decide arrastar o banco para sentar-se de frente para ela. O barulho do móvel que se arrasta é o ruído do trovão. A luz que ilumina o céu em noites de tempestade, o brilho do tembetá (ornamento labial) de Tupã.
Esta é apenas uma das várias histórias indígenas que envolvem raios e tempestades. Outras lendas dizem que os trovões são, na verdade, demonstrações de que Tupã está zangado. E sabia que veio dos índios a expressão que diz que “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”? Eles acreditavam nesse mito, e costumavam usar pedaços de troncos de árvores queimadas por raios como amuletos de proteção.
Essas e outras curiosidades estão no livro Brasil: que raio de história, do engenheiro eletricista Osmar Pinto Jr. e da jornalista Iara Cardoso, ambos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Eles decidiram contar como, em diferentes épocas, os raios foram compreendidos no Brasil.
Muitos fatos importantes da nossa história, como a chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, têm relação com as tempestades. Durante a viagem, por exemplo, a comitiva de 46 navios que traziam Dom João VI e sua corte para o Brasil passou por poucas e boas. Além dos raios assustadores, o movimento forte das águas causou enjoo e pânico nas pessoas. Um dos mais assustados era o próprio rei, que morria de medo de relâmpagos!
O quê? Não sabia? Pois saiba que a fama de medroso do monarca era grande. Dizem que, quando havia uma tempestade, o rei, de tanto medo, cancelava seus compromissos e ficava trancado em seus aposentos, com janelas e portas fechadas. Mesmo assim, Dom João foi um importante incentivador das ciências, inclusive do estudo de raios.
Essa área da ciência começou a se fortalecer no país em meados do século 19, no Observatório Imperial (atual Observatório Nacional). Mas só décadas mais tarde o estudo das tempestades foi reconhecido pelas pessoas como realmente importante, sobretudo porque ajudava a prevenir acidentes como naufrágios que deixavam dezenas de mortos.
Hoje, o Brasil tem uma das melhores redes de detecção de raios do mundo, o que ajuda a entender como esse fenômeno acontece e como as ações humanas podem influenciar a ocorrência de raios nas diferentes regiões do país. Conhecer bem os raios é o primeiro passo para compreender seu poder de destruição e prevenir acidentes!
De Osmar Pinto Jr. e Iara Cardoso
Editora Oficina de Textos