Detetives da natureza

Estudar animais não é fácil. Para descobrir detalhes sobre a vida dos bichos, muitas vezes os cientistas precisam capturá-los ou examinar os corpos dos que já morreram. Ou, ainda, usar um método inusitado: estudar o cocô que os animais deixam pelas matas.

Você já leu aqui sobre pesquisadores que analisam fezes de peixes-boi na Amazônia. Agora, um grupo de cientistas procura amostras para estudar a onça-parda em regiões do estado de São Paulo próximas a plantações de cana-de-açúcar.

A onça-parda está ameaçada de extinção e requer cuidados especiais. Por isso, os pesquisadores querem entender direitinho seus hábitos, incluindo os de alimentação. E é aí que o cocô entra na história – afinal, ele nada mais é que um composto formado pelos restos alimentares do animal. (foto: Greg Hume / Wikimedia Commons / (a href=http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)CC BY-SA 3.0(/a))

A onça-parda está ameaçada de extinção e requer cuidados especiais. Por isso, os pesquisadores querem entender direitinho seus hábitos, incluindo os de alimentação. E é aí que o cocô entra na história – afinal, ele nada mais é que um composto formado pelos restos alimentares do animal. (foto: Greg Hume / Wikimedia Commons / (a href=http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0)CC BY-SA 3.0(/a))

Para começar o trabalho, o primeiro passo foi identificar as fezes das onças. Como elas têm o costume de se lamber, seus excrementos contêm pelos, o que facilitou essa parte do trabalho. Em seguida, o material coletado passou por uma análise química, com atenção particular aos átomos de carbono e nitrogênio encontrados.

“Dependendo dos tipos e quantidades desses dois elementos, podemos saber onde as presas da onça – isto é, os bichos que ela come, como capivara e algumas serpentes e aves – costumavam se alimentar,” explica o biólogo Marcelo Magioli, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP).

Os resultados mostraram que a dieta das presas estava mais baseada nas áreas de plantações de cana-de-açúcar, comuns na região, do que nos recursos florestais escassos que existem por lá. “Isso comprova que áreas agrícolas também são importantes na sobrevivência de alguns animais, como a onça, por serem fonte de alimento para suas presas”, completa Marcelo.

Outros rastros
Além do estudo das fezes, as pegadas de bichos também podem fornecer dicas valiosas sobre seus hábitos. O próprio Marcelo usou esse método para descobrir quantas espécies habitavam em algumas cidades da região metropolitana de Campinas.

Pesquisadores analisam pegadas de bichos como gato-do-mato-pequeno (foto), lobo-guará e tamanduá-bandeira, todos ameaçados de extinção. Esta é uma forma de estudá-los sem a necessidade de entrar em contato com os animais ou estressá-los a presença humana. (foto: Marcelo Magioli)

Pesquisadores analisam pegadas de bichos como gato-do-mato-pequeno (foto), lobo-guará e tamanduá-bandeira, todos ameaçados de extinção. Esta é uma forma de estudá-los sem a necessidade de entrar em contato com os animais ou estressá-los a presença humana. (foto: Marcelo Magioli)

“Foram 27 espécies de mamíferos identificadas, sendo sete ameaçadas de extinção, como o gato-do-mato-pequeno, lobo-guará e tamanduá-bandeira – um resultado muito importante, principalmente por ser uma área muito urbanizada”, conta.