Avô de todos

Quando o assunto é a pesquisa de fósseis, nossos leitores já sabem: cada nova descoberta nos deixa mais perto de montar o quebra-cabeça sobre o passado remoto do nosso planeta. A mais recente delas, feita aqui no Brasil, pode ajudar a desvendar a origem de diversos animais, como dinossauros, jacarés e aves. Cientistas encontraram no Rio Grande do Sul o fóssil de um possível ancestral de todos eles.

A posição do focinho e o formato dos dentes levam a crer que 'Teyujagua paradoxa' vivia em ambientes aquáticos ou semiaquáticos e se alimentava de peixes e pequenos répteis. (ilustração: Voltaire Neto)

A posição do focinho e o formato dos dentes levam a crer que (i)Teyujagua paradoxa(/i) vivia em ambientes aquáticos ou semiaquáticos e se alimentava de peixes e pequenos répteis. (ilustração: Voltaire Neto)

Este importante animal era uma espécie de réptil primitivo, do qual foi encontrado, por enquanto, apenas o crânio, com aproximadamente 11 centímetros. Como outros bichos pré-históricos, ele era para lá de curioso: tinha dentes curvados e serrilhados, uma marca dos carnívoros. Já as narinas ficavam na parte de cima do focinho, uma característica de animais aquáticos e semiaquáticos, que conseguem ver e respirar com a cabeça parcialmente dentro d’água, como os jacarés.

Com tantas características inusitadas, o réptil ganhou um nome à altura: Teyujagua paradoxa. Teyujagua significa “réptil feroz” em guarani, uma referência ao personagem mitológico indígena que apresentava corpo de lagarto e cabeça de cachorro.

Segundo os cientistas, Teyujagua paradoxa teria vivido há 250 milhões de anos, logo depois ter ter ocorrido a maior extinção em massa dos seres vivos da Terra. Com aproximadamente um metro e meio de comprimento, ele foi um parente próximo dos arcossauriformes (grupo que inclui, entre outros, crocodilos, pterossauros, dinossauros e aves) e pode ajudar a explicar a origem deles. “A extinção em massa matou entre 75 e 90% dos seres vivos da Terra, e o Teyujagua paradoxa pode ser um dos ‘avôs’ de muitas das espécies que temos hoje, porque estava presente no repovoamento  do planeta”, explica o geólogo Cesar Schultz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Os arcossauriformes têm origem evolutiva pouco conhecida, porque são raros os registros fósseis dos momentos que sucederam a grande extinção, o que aumenta a importância da descoberta. “O Teyujagua é um intermediário entre os répteis primitivos e os arcossauriformes, podendo nos explicar um pouco mais sobre seu surgimento”, conta o paleontólogo Felipe Pinheiro, coautor do trabalho e pesquisador da Universidade Federal do Pampa.