É uma doença infecciosa, ou seja, causada por microrganismos como vírus ou bactérias. No caso da varíola dos macacos, a doença é transmitida por um vírus do gênero Orthopoxvirus e da família Poxviridae. É a mesma família do vírus que causa a varíola humana e do vírus que causa a varíola bovina. Daí, aliás, vem o nome científico dado à varíola dos macacos: monkeypox (monkey, em português, macaco; e pox em referência ao vírus causador da doença).
A primeira vez que se registrou um caso de varíola dos macacos em humanos foi no ano de 1970, na República Democrática do Congo, na África. Acredita-se que a transmissão do vírus aos humanos tenha acontecido por meio do contato ou ingestão de roedores contaminados.
Desde então, por muito tempo, a varíola dos macacos foi identificada apenas em países do continente africano. Só no começo dos anos 2000 outros países passaram a relatar casos da doença. E, a partir de maio deste ano, começou uma explosão de infecções em vários continentes. No Brasil, o primeiro caso em humanos foi registrado oficialmente em junho. Mas nós, humanos, não somos o principal alvo do vírus da varíola dos macacos.
Essa é uma doença comum em outros mamíferos, especialmente roedores. Mas nós podemos ser infectados quando entramos em contato com algum animal doente. E atualmente o contágio também pode acontecer de pessoa para pessoa.
A principal característica dessa doença é o aparecimento de feridas elevadas e cheias de líquido (pus) na pele – são as pústulas. Essas pústulas eventualmente formam crostas que
cicatrizam e caem.
A varíola dos macacos pode infectar, sim, os macacos, mas esse nome é injusto. O principal reservatório do vírus dessa doença na natureza são roedores, como o esquilo, o rato gigante africano e outros mais exóticos como o Graphiurus.
A varíola dos macacos ganhou esse nome porque o primeiro caso de infecção de que se tem notícia foi identificado em 1958 por cientistas em um laboratório na Dinamarca. Eles estudavam macacos trazidos da África, e, por acaso, alguns desses macacos estavam infectados. Provavelmente o vírus veio de roedores presentes na região da África Central.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem planos para mudar o nome desse vírus em breve. Parece bobagem, mas é importante para retirar qualquer dúvida que as pessoas possam ter e evitar que os macacos sejam agredidos desnecessariamente. Então lembrem-se: os macacos não costumam carregar o vírus da varíola dos macacos, especialmente no nosso continente, então não machuquem esses animais! Isso vale também para outros bichos, como os roedores, que são os que mais se infectam com o vírus.
A transmissão acontece principalmente pelo contato direto com uma pessoa infectada, especialmente se essa pessoa tiver feridas na pele, que estão sempre carregadas de vírus. Objetos como toalhas, lençóis e talheres que são usados por pessoas infectadas também podem transmitir o vírus.
O vírus da varíola dos macacos não é tão infeccioso como o da gripe ou da covid-19. Por exemplo, ele não se transmite bem pelo ar. É necessário contato prolongado e proximidade com uma pessoa infectada para que a doença seja transmitida dessa forma. Nesse caso, a recomendação sobre o uso de máscaras e de lavar bem as mãos, que usamos bastante no caso da covid-19, também é válida.
Os sintomas da doença incluem dor de cabeça, dor de garganta, febre alta, mal-estar e feridas na pele. Pessoas infectadas ou com suspeita de contaminação devem ser isoladas até que os sintomas passem, e até que todas as feridas cicatrizem, o que pode levar de duas a quatro semanas. Todo material – roupa de cama, toalhas etc. – utilizado por pessoas infectadas deve ser higienizado com cuidado.
A vacina contra varíola humana também oferece proteção contra a varíola dos macacos, mas o Brasil deixou de vacinar contra a varíola no início da década de 1970. Isso aconteceu porque essa doença foi completamente erradicada do planeta em 1979. Felizmente já existe uma vacina, chamada de Jynneos, capaz de nos proteger da varíola dos macacos.
O Brasil encomendou um primeiro carregamento de 50 mil doses do imunizante, que deve chegar em breve ao país. Pessoas com mais riscos de desenvolverem sintomas graves e profissionais de saúde devem ser os primeiros a receber as vacinas.
Leandro Lobo
Instituto de Microbiologia Paulo de Góes
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Matéria publicada em 30.09.2022