Quero saber…

…como os ex-escravizados conseguiam a carta de alforria?

Gravura Jean-Baptiste Debret/Wikipédia

 

Os escravizados conquistavam sua liberdade de diferentes maneiras. Podiam, por exemplo, “comprar a liberdade”. Veja: alguns escravos, chamados ‘escravos de ganho’, recebiam uma pequena quantia por serviços que faziam. Se juntassem dinheiro suficiente para pagar suas dívidas com o seu “senhor”, podiam ser livres.

Outra maneira de conquistar a liberdade era provando ser filho (ou filha) de pais libertos. Mas essa comprovação não era fácil. Precisavam de documentos e da ajuda de advogados.  Alguns advogados abolicionistas, como Luís Gama, ajudavam os escravos gratuitamente.

Uma maneira bastante curiosa de promover a liberdade dos escravos aconteceu na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A Sociedade Paternon Literário, que não se envolvia apenas com livros, mas como ideias de liberdade e independência, promoveu espetáculos para arrecadar dinheiro e libertar vários escravos. Os espetáculos teatrais traziam os próprios negros escravizados como atores, até crianças atuavam. Assim, desde 1868, muitas pessoas escravizadas foram alforriadas e conquistaram a liberdade antes da assinatura da Lei Áurea, em 1888. Outros estados também aderiram à ideia e promoveram apresentações artísticas, como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco.

 

Cathia Abreu
Especial para o Instituto Ciência Hoje

Maria Eunice Moreira
Faculdade de Letras
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 

…se, na época da escravidão, existiam brancos que eram a favor da abolição?

Sim, existiam. E eram eles e elas. A luta pelo fim da escravidão foi travada por muitos negros, mas também contou com a participação de brancos. No século 19, políticos, como Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, e escritores, como Olavo Bilac, foram alguns dos homens brancos mais importantes nessa batalha antiescravista.

Mas, as mulheres brancas não ficaram de fora. Em várias partes do Brasil, elas criaram associações que, entre outras coisas, davam abrigo clandestino a escravos fugidos, arrecadavam dinheiro para a compra de alforria e, após a libertação, trabalhavam na alfabetização de ex-escravos.

Olavo Bilac/Foto Wikipédia

No Rio de Janeiro, existiram pelo menos seis associações abolicionistas femininas, com destaque para personagens como Dona Henriqueta de Sena e Dona Carolina de Vasconcelos. Pelo título de “dona”, que naquela época significava uma forma de distinção social, percebemos que eram mulheres de famílias importantes da sociedade, mas, não apenas estas tiveram destaque na luta contra a escravidão. No Ceará, primeiro estado a abolir a escravidão, o papel de mulheres brancas mais humildes também foi importante. Leonor Porto, uma das fundadoras do grupo feminino Ave Libertas, em 1884, era costureira e, junto com outras companheiras, defendia a abolição e divulgava essas ideias através de jornais da região.

Como podemos ver, a luta por essa causa envolveu diferentes grupos e setores do Brasil, unindo muitos brancos e brancas a negros e negras que buscavam dar fim aos mais de 300 anos de injustiças e violência expressados pela escravidão.

 

Ana Paula Cabral Tostes
Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro

…se ainda existem pessoas escravizadas no Brasil?

Infelizmente, sim. Não é como a escravidão de antigamente, anterior a 1888, mas no nosso país ainda são encontradas muitas pessoas em condições de trabalho consideradas muito próximas daquelas do passado. As leis brasileiras dizem que submeter a pessoa a condições de trabalho humilhantes, obrigar a pessoa a realizar um trabalho forçado por meio de mentira, violência ou prisão, são alguns aspectos que indicam se tratar de trabalho escravo. É crime, tendo como punição muitos anos de cadeia e pagamento de multa. Apesar da dureza da lei, no ano passado, entre janeiro e outubro, o Ministério do Trabalho encontrou mais de mil pessoas submetidas a trabalho escravo no Brasil.

E o que diferencia a antiga escravidão da que existe em nossos dias? A primeira grande diferença é que naquela época a escravidão era legalizada. Existia um comércio escravagista, com compra e vendas de pessoas (inclusive crianças e adolescentes) que funcionava livremente. Outra diferença importante é que se herdava a condição de escravizado, passando de mãe para filho ou filha. Não é mais assim!

Mas o fato de não ser mais como era antes da Lei Áurea, sem sombra de dúvida, não torna o trabalho escravo dos dias de hoje mais suave no Brasil. Os trabalhadores escravizados atuais estão muitas vezes aprisionados, ameaçados e foram enganados com ofertas de trabalho longe de suas casas. A miséria e a fome os fizeram aceitar o trabalho distante, sem saber que seriam escravizados. Isso acontece não só no campo, como nas cidades. Em grandes cidades brasileiras tem-se encontrado locais com imigrantes em situação de escravidão. Nesses casos, os exploradores ameaçam estes trabalhadores com a expulsão do país, por estarem ilegalmente aqui. Muitos são refugiados e não tem como voltar a sua terra natal. Hoje, no Brasil, a escravidão contemporânea é uma violação aos Direitos Humanos.

 

Monica Lima
Instituto de História
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Matéria publicada em 05.06.2019

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