Malacólogo!

Ilustração Cruz

 

Quando caminhamos na praia ou ao lado de mangues e rios, nem desconfiamos que as conchinhas no caminho guardam histórias. As conchas protegem os moluscos, o grupo de animais que inclui caracóis, lulas, mariscos, lesmas… Conchas e moluscos são, na verdade, inseparáveis. Quando vemos uma concha sozinha, é sinal de que o molusco que habitava ali morreu. Raros são os moluscos que não possuem conchas. Mas como sabemos tudo isso?

Sabemos porque existem profissionais que se dedicam justamente a estudar esses animais de corpo mole – os malacólogos! Aprendemos muito sobre eles com a professora Sonia Barbosa dos Santos, que dá aulas de Zoologia Geral e de Malacologia no Instituto de Biologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ela diz que as conchas mostram a imensa variedade de formas e adaptações dos seres vivos e que os moluscos podem estar nos lugares mais improváveis!

 

Ciência Hoje das Crianças: De onde vem o nome malacologia? O que significa? 

Sonia Barbosa dos Santos:  O nome vem do grego “malaco”, que quer dizer mole. “Logos” tem a ver com estudo, conhecimento. Assim, malacologia é o estudo dos moluscos, que são animais de corpo mole. O nome em latim do grupo é “Mollusca”, que vem do latim “mollis”. Um malacólogo estuda os moluscos, grupo que inclui as lesmas, caracóis, polvos, lulas, mariscos… É interessante que “malaco” também é uma gíria empregada para designar pessoas espertas.

 

CHC: O que as conchas e os moluscos podem nos ensinar? 

Sonia: Podem nos mostrar a imensa variedade de formas e adaptações dos seres vivos. Podem nos mostrar também o quanto é maravilhosa a arquitetura animal. As conchas são construídas segundo leis matemáticas.

 

CHC: Por que é importante estudar os moluscos?

Sonia: Os moluscos apresentam diversas relações com os humanos. Muitas espécies nos servem como alimento, como mariscos e polvos. Outras são pragas na agricultura, como as lesmas. Há ainda as que são vetores de doenças, como as chamadas bionfalárias. Mas outras são fornecedoras de fármacos, como os conhecidos como opistobrânquios e outros moluscos, ou usadas na medicina popular.

 

CHC: É verdade que as conchas trazem o som do mar? 

Sonia: Não! O ruído que se ouve quando se encosta uma concha ao ouvido se chama reverberação. Na verdade, trata-se do som ambiente, que é amplificado. Estruturas com formato de concha tem essa capacidade de atuar como amplificadores. Por exemplo, os teatros em salas de música em formato de conchas acústicas têm a função de reverberar o som,ou seja, fazer um retorno desse som de modo amplificado. Assim todas as pessoas naquele ambiente ouvem o som com a mesma intensidade.

 

CHC: Qual é a relação entre conchas e moluscos?

Sonia: Conchas e moluscos formam uma unidade inseparável. Conforme o animal cresce, a concha cresce também. Quando encontramos uma concha vazia, é porque o animal que a habitava morreu. Mas existem moluscos como algumas lesmas marinhas (opistobrânquios) e outras terrestres (lesminha preta das alfaces) que não possuem concha. Nesses casos, a concha foi reduzida ou perdida ao longo da evolução desse grupo.

 

CHC: O malacólogo trabalha na praia? 

Sonia: Trabalha na praia, no mangue, nos rios, lagos e açudes, nos rios, nas montanhas…. em todo lugar onde se encontram moluscos!

 

CHC: Como é o dia a dia de trabalho de um malacólogo? 

Sonia: É bastante puxado. Além das atividades como professora, que incluem preparar aulas e ensinar a alunos de graduação e pós-graduação, também pesquiso grupos de moluscos, oriento alunos de diversos níveis na elaboração de suas monografias, dissertações e teses, atendo consultorias, faço pareceres para projetos e revistas científicas. Também desenvolvo atividades de divulgação científica para estudantes da escola básica.

 

CHC: O que mais a atrai nessa profissão? 

Sonia: A falta de rotina! Cada turma é uma novidade. São novos jovens a despertar para a beleza e a diversidade dos moluscos. E cada expedição a campo revela novas descobertas.

 

CHC: Qual fato mais a surpreendeu ao longo da vida de malacóloga? 

Sonia: Foram muitos. Mas um me chamou a atenção: ainda iniciando a vida científica, jovem pesquisadora, fiz um trabalho numa área de cerrado em Minas Gerais, Mocambinho. Nada de acharmos os moluscos que procurávamos, até que um mateiro, escavando ao pé dos gravatás, naquele ambiente seco e de calor insuportável, encontrou moluscos vivos enterrados a quase meio metro de profundidade, onde havia resquícios de umidade! Foi uma lição de adaptabilidade a condições adversas. Aprendi a lição: até hoje, quando saio em busca de moluscos, os procuro nos mais improváveis ambientes.

 

CHC: Como se forma um malacólogo? 

Sonia: Nos cursos de ciências biológicas, na área de zoologia. Para isso, é necessário fazer estágio em algum laboratório que trabalhe com malacologia. Depois, pode continuar a formação no mestrado e no doutorado. Sempre envolve muito estudo e dedicação. Eu me decidi pela malacologia no terceiro período da faculdade. Um professor me ofereceu uma caixa de moluscos fósseis para estudar. Aceitei e me encantei!

 

CHC: O que é o mais importante para ser um bom malacólogo? 

Sonia: Boa capacidade de observação, para perceber detalhes, habilidades manuais para a dissecção (que é esmiuçar e isolar as partes de um corpo ou órgão), gostar de trabalhos de campo, capacidade de trabalhar em equipe, organização. É importante também, assim como em outras áreas, ter conhecimentos básicos em inglês, que é a língua científica comum atualmente.

 

Elisa Martins
Jornalista, especial para a CHC

Matéria publicada em 21.01.2019

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