Observar uma festa junina, um frevo ou um bloco de carnaval. Isso lá é trabalho? Claro que pode ser! Quem observa essas festividades com o objetivo de estudar o conjunto das tradições e costumes que marcam a identidade de um povo é o profissional especializado em folclore – ou folclorista!
Em um país gigante com o Brasil, que reúne pessoas com as mais diferentes origens, não faltam festividades para serem estudadas. Da festa da uva, do sul do país, ao
bumba-meu-boi, do Maranhão, passando pelo maracatu, de Pernambuco, há muito a ser visto. Além disso, compreender a origem de histórias fantásticas ou lendas, como a do saci-pererê, a da mula-sem-cabeça ou a do curupira também faz parte do trabalho dos folcloristas.
Para entender um pouco mais sobre essa especialidade, a CHC foi conversar com a folclorista, historiadora, professora e fotógrafa Reinilda Oliveira. Entre os muitos trabalhos que realiza, ela se dedica a observar e estudar as danças, histórias e tradições do povo maranhense.
Ciência Hoje das Crianças: O que é folclore?
Reinilda Oliveira: Folclore é um termo muito utilizado e difícil de definir. Muitas vezes usamos para falar de lendas e mitos nacionais, como o lobisomem e o bicho-papão. Mas, de modo geral, são tradições populares que podem ser lendas, mitos, danças e costumes, que são passados de geração em geração e formam a identidade de um povo.
CHC: É certo dizer que existe um folclore brasileiro?
RO: Na realidade, existe uma variedade imensa de manifestações que são folclóricas. O Brasil é um país enorme e cada região tem seus costumes próprios, que misturam elementos das culturas africana, indígena, portuguesa… O Maranhão é muito diferente do Rio Grande do Sul, que é diferente do Acre…
CHC: Como podem existem histórias diferentes sobre os mesmos mitos e lendas?
RO: Como muitas das manifestações folclóricas são passadas de geração para geração pela fala, as pessoas acabam mudando algumas coisas com o tempo ou entendem de formas diferentes.
CHC: Em geral, as pessoas acham que folclore inclui somente mitos e lendas, como o saci-pererê ou o curupira. O que mais podemos citar como exemplo do folclore brasileiro?
RO: Acabamos acreditando que folclore está relacionado apenas a mitos e lendas, mas muitas outras manifestações podem ser entendidas como folclore. Por exemplo: carnaval, festas juninas, bumba-meu-boi, festa do divino, frevo, samba, fandango, xote, maracatu, pau-de-fita, quadrilha, comidas típicas, cantigas de roda e muito mais.
CHC: E como é que alguém se forma folclorista?
RO: Não existe uma formação específica para ser folclorista. A pessoa pode ser formada em qualquer área ou simplesmente ter afinidade com temas envolvendo as tradições do povo. No geral, o folclorista pesquisa elementos relacionados com isso, publica livros ou outros materiais, busca valorizar e conscientizar os outros da importância disso.
CHC: Quando criança você imaginou trabalhar com folclore ou escolheu esse caminho mais tarde?
RO: Desde criança eu gostava das cores e da diversidade cultural que existe no meu estado. O Maranhão é muito rico em manifestações culturais, há muitos grupos de bumba-meu-boi, tambor de crioula, festa do divino Espírito Santo…. E eu me encantava com tudo isso e queria entender tudo, por isso fiz o curso de História e decidi pesquisar sobre isso.
CHC: Como é o seu dia a dia no trabalho? Onde e como você trabalha?
RO: Atuo como professora de História, pesquisadora e fotógrafa. Eu passo muito tempo viajando, em oficinas para alunos de educação básica e fotografando as mais distintas manifestações culturais que existem no Maranhão. Além do mais, faço parte de grupos que se preocupam em discutir sobre folclore e cultura popular. Isso tudo me faz mergulhar nesse universo.
CHC: O que alguém precisa fazer para seguir essa carreira?
RO: Precisa ser curioso, ter afinidade com os costumes do povo e gostar de ouvir, porque grande parte do que se sabe sobre folclore e cultura popular vem de histórias contadas de geração para geração.
CHC: É importante as crianças aprenderem sobre folclore na escola? Por quê?
RO: Claro, as manifestações folclóricas e de cultura popular fazem parte da história de um lugar, portanto é muito importante que a escola abra espaço para discussões sobre isso. Principalmente como uma forma de instigar os alunos a conhecerem e também para que possa valorizar os elementos do povo.
Thayuan Leiras,
Jornalista,
Especial para a CHC.
Matéria publicada em 18.08.2018