Nariz avantajado, corpo grande, rosto protuberante e estatura baixa: essas são algumas características dos nossos parentes neandertais, extintos há quase 30 mil anos. Já se sabia que eles chegaram a conviver com os seres humanos modernos, –, nós, os Homo sapiens sapiens –, mas uma nova técnica mostrou que esse convívio foi duradouro: por cinco mil anos, as duas espécies coexistiram, competiram e até se misturaram.
A novidade é fruto de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Utilizando a nova técnica, que indica com mais precisão a idade de fósseis, eles analisaram 40 sítios arqueológicos espalhados por toda a Europa com ossos e artefatos dos neandertais – o Homo neanderthalensis,.
“A técnica antiga não era tão exata porque fragmentos de matéria orgânica muito atuais podiam contaminar as amostras, que acabavam parecendo ser mais recentes do que eram”, explica a geneticista da Universidade Federal da Bahia Vanessa Rodrigues Paixão-Côrtes. “Já na nova técnica, os autores do estudo aplicaram rigorosos métodos químicos para limpar as amostras, eliminando essas partículas recentes”.
Uma das hipóteses mais discutidas sobre a relação entre as duas espécies é de que os homens modernos teriam dizimado os neandertais quando chegaram à Europa. No entanto, Vanessa explica que, graças à nova, técnica foi possível construir uma linha do tempo mais exata desse convívio e dizer com mais precisão quando os homens das cavernas sumiram.
“Sabendo a idade correta de cada fóssil, percebemos que os neandertais não desapareceram do nada, exterminados pelo Homo sapiens sapiens, eles foram sumindo aos poucos”, esclarece.
Por que será, então, que foram extintos? Segundo Vanessa, isso ainda não foi descoberto, mas é possível que tenham sido os conflitos com o homem moderno, que estaria em maior número que os neandertais na competição por diversos recursos como alimentos e abrigo, além de doenças e eventos climáticos.
Mas essa história de rixa entre ramos rivais da nossa família evolutiva também deve ter tido seus casos de amor: “O que sabemos com absoluta certeza é que, antes de os neandertais desaparecerem, houve cruzamentos entre eles e a nossa espécie”, conta a geneticista.
Por isso, os pesquisadores acreditam que, até hoje, ainda existem características desse grupo em alguns europeus ou asiáticos, que podem ter de 1 a 4% do DNA da espécie primitiva. “E nós brasileiros também podemos ter essa herança, já que nosso país tem muitos descendentes da Europa e Ásia”, lembra Vanessa. Será que eu ou você tivemos um parente neandertal?