Viagens dos alimentos

Caminhando entre as prateleiras de um supermercado, podemos observar muitos alimentos, nas mais diversificadas embalagens. Você estranharia se comparássemos o conjunto dos alimentos expostos no supermercado a um livro de História? Que pergunta… É claro que estranharia! Mas, pense bem: se cada alimento tem a sua origem, a sua história, a sua transformação, por meio de técnicas que foram evoluindo ao longo do tempo, podemos ou não falar em história dos alimentos?

Você sabia que foram os gregos que inventaram o forno para cozinhar o pão? O forno era um recipiente pré-aquecido com uma abertura na frente. Na cidade grega de Atenas, no século 3 antes da nossa era, já havia 72 tipos diferentes de pão! (Foto: Tina Vance / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)

Você sabia que foram os gregos que inventaram o forno para cozinhar o pão? O forno era um recipiente pré-aquecido com uma abertura na frente. Na cidade grega de Atenas, no século 3 antes da nossa era, já havia 72 tipos diferentes de pão! (Foto: Tina Vance / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)

Para começo de conversa, nada mais justo do que começar pelo pão. Os estudiosos do assunto o consideram o rei dos alimentos, pelo seu alto valor nutritivo e por ser consumido pela maioria dos povos. Desde a Antiguidade, o pão é feito de diversas maneiras, a partir de produtos bem diferentes – como a mandioca, o trigo, a cevada, o centeio, o milho, a batata etc. E cada um desses produtos demorou muito tempo para ser cultivado e incorporado à culinária.

Os antigos egípcios faziam pão com uma pasta de trigo, que era colocada em recipientes quentes com forma de pirâmide. Já os indígenas da América aprenderam a fazer pão de um produto que tem sua origem na região sul-americana dos Andes: a batata. Esses exemplos mostram que os pães vendidos, hoje, nos supermercados, são o resultado do aprimoramento das técnicas de trabalho de povos muito antigos.

Pode-se dizer que foram os séculos 15 e 16 os mais importantes na história dos alimentos. Era a época das grandes navegações, quando os europeus, em busca de novos territórios para explorar e de novos produtos para comercializar, entraram em contato com povos de todos os continentes. Desde que chegaram à América, em 1492, na célebre viagem de Cristóvão Colombo, os europeus trouxeram para cá quase todo tipo de alimento que já existia na Europa, na Ásia e na África.

Entre os produtos que vieram de outros continentes para o nosso, estão o trigo, o arroz, a cana-de-açúcar, várias frutas – uva, laranja, manga, banana, jaca, melancia, pêssego e coco, entre outras –, além de animais domésticos, como o porco, a galinha (com seus preciosos ovos!), a vaca, a cabra e a ovelha – os três últimos produtores de leite, do qual derivam, entre outros, a manteiga e o queijo.

Não foi simples assimilar alimentos americanos na dieta europeia. A batata, por exemplo, era muito temida: assim como o tomate, era tida como venenosa, alimento de bruxas! No início, era oferecida apenas aos porcos e, depois, aos camponeses pobres, antes de se disseminar entre os mais ricos (Foto: Brian Hoffman / Flickr / CC BY-NC-SA 2.0)

Não foi simples assimilar alimentos americanos na dieta europeia. A batata, por exemplo, era muito temida: assim como o tomate, era tida como venenosa, alimento de bruxas! No início, era oferecida apenas aos porcos e, depois, aos camponeses pobres, antes de se disseminar entre os mais ricos (Foto: Brian Hoffman / Flickr / CC BY-NC-SA 2.0)

Daqui também seguiram alguns produtos para a Europa, a Ásia e a África, como a batata-doce, o tomate, o milho, a mandioca – hoje, alimento básico em vários países africanos –, o amendoim, vários tipos de feijão e de abóbora, o pimentão e frutas como cacau – matéria-prima do chocolate –, abacate, caju, mamão, maracujá e goiaba, além de animais, como o peru e o búfalo. Isso sem falar do algodão, do qual se faz, além de tecido, um óleo comestível.

Como resultado dessas trocas, muitos pratos que pensamos ser originários de um único país são, na realidade, produto da mistura de ingredientes de várias partes do mundo. É o caso da macarronada, prato típico da Itália, que é preparado com macarrão, inventado na China, e regado ao molho de tomate, nativo da América. Que mistura apetitosa!

(Esta é uma reedição do texto publicado na CHC 116.)