Você sabe o que é uma vereda ou já viu uma? Conhecendo ou não, saiba que elas são muito importantes, além de ser um ambiente incrível, cheio de novidades para explorar. São áreas de vegetação com características próprias, localizadas no bioma Cerrado. Dessa forma, podemos encontrar esses lindos ambientes em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, sul da Bahia e na região amazônica. Como pode notar, são vários os estados onde você pode encontrar as veredas. Pronto para essa viagem? Vamos lá!

Os pequenos córregos e riachos marcam o caminho na vereda. (foto: Elisabeth Arndt)

Os pequenos córregos e riachos marcam o caminho na vereda. (foto: Elisabeth Arndt)

Existem muitas definições para a palavra “vereda” no dicionário. Você pode ir até lá consultar! Já voltou? Ótimo! Você viu que a mais comum é que vereda significa “caminho”. Se pararmos para analisar uma fotografia desse ambiente, dá para notar que o nome é muito apropriado, já que formam caminhos de água.

Os buritis são comuns nas áreas de vereda do Cerrado. (foto: Paulo Robson de Souza)

Os buritis são comuns nas áreas de vereda do Cerrado. (foto: Paulo Robson de Souza)

As veredas ocorrem onde existem lençóis freáticos, são lugares de nascentes que, por menores que sejam, formam os córregos e riachos que abastecem os grandes rios e permitem que exista água limpa e de qualidade. São campos de vegetação rasteira, de solo muito úmido, onde as raízes das plantas e o solo preto se comportam como esponjas e filtros, retendo o sedimento (restos de folhas e outros materiais orgânicos) e fornecendo água pura para as áreas e comunidades locais.

 

Abrigo para os animais

As veredas são locais importantíssimos para a fauna da região onde elas ocorrem. Nelas, podemos ver lobos-guará, tamanduás, serpentes, peixes, anfíbios, aves e, acreditem, até jacaré! Esses animais buscam água, alimento e abrigo nas veredas. Por serem locais sempre úmidos, oferecem alimentos e refúgio para a fauna.

Araras-canindés fazem a festa entre flores e frutos de buritis. (foto: Paulo Robson de Souza)

Araras-canindés fazem a festa entre flores e frutos de buritis. (foto: Paulo Robson de Souza)

Um grande escritor brasileiro, nascido nas Minas Gerais, onde existem muitas veredas, escreveu um livro chamado “Grande Sertão: Veredas”. João Guimarães Rosa era o nome dele, que soube retratar as veredas com uma grande riqueza de detalhes (Leia, no fim deste texto, um trecho de Grande sertão: Veredas). No livro, o autor retrata tanto as características físicas quanto as biológicas, fala da região, dos bichos e das espécies de plantas locais.

As águas das veredas podem esconder novidades! Uma nova espécie de peixe, do gênero (i)Melanorivulus(/i), foi encontrada na vereda do Mato Grosso do Sul. (foto: Paulo Robson de Souza)

As águas das veredas podem esconder novidades! Uma nova espécie de peixe, do gênero (i)Melanorivulus(/i), foi encontrada na vereda do Mato Grosso do Sul. (foto: Paulo Robson de Souza)

 

Vereda dos buritis

Foram registradas cerca de 1.200 espécies diferentes de vegetais somente para as veredas de Mato Grosso do Sul. Uma das plantas que mais se destaca é o buriti (mas nem sempre há buritis na vereda!), que tem o nome científico de Mauritia flexuosa e é uma das plantas utilizadas para classificar o ambiente como vereda. (Clique aqui para ler um poema em homenagem ao buritis.)

Frutos de buriti maduros. (foto: Paulo Robson de Souza)

Frutos de buriti maduros. (foto: Paulo Robson de Souza)

Mas os cientistas já descobriram outros grupos de plantas igualmente importantes que podem ser utilizados para definir esses ambientes, como juncos e sempre-vivas.

Com toda essa importância, as veredas vêm desaparecendo progressivamente. O uso indevido da água acumulada nessas áreas (drenagens e represas) e as queimadas (que prejudicam as reservas de água profundas) são alguns fatores que ameaçam esses reservatórios naturais de água.

Lindas flores e frutos crescem nas veredas do Cerrado brasileiro. (foto: Paulo Robson de Souza)

Lindas flores e frutos crescem nas veredas do Cerrado brasileiro. (foto: Paulo Robson de Souza)

Afinal, sem água não há vida! Portanto, conhecer e proteger as veredas se torna extremamente importante para a conservação e manutenção da natureza.

 

Grande Sertão: Veredas

“… Saem dos mesmos brejos-buritizais enormes. Por lá, sucurí geme. Cada surucuiú do grosso: vôa corpo no veado e se enrosca nele, abofa – trinta palmos! Tudo em volta, é um barro colador, que segura até casco de mula, arranca ferradura por ferradura. Com medo de mãe-cobra, se vê muito bicho retardar ponderado, paz de hora de poder água beber, esses escondidos atrás das touceiras de buritirama. Mas o sassafrás dá mato, guardando o pôço; o que cheira um bom perfume. Jacaré grita, uma, duas, as três vezes, rouco roncado. Jacaré choca-olhalhão, crespido do lamal, feio mirando na gente. Eh, ele sabe se engordar. Nas lagoas aonde nem um de asas não pousa, por causa de jacaré e da piranha serrafina. Ou outra – lagoa que nem não abre o olho, de tanto junco. Daí longe em longe, os brejos vão virando rios. Buritizal vem com eles, buriti se segue, segue…”.

Grande Sertão: Veredas, Editora Nova Fronteira S.A., 1. Ed. (Biblioteca do Estudante), página 31.