Venenosa e peçonhenta

Bem distante do Brasil, em alguns países da Ásia, existe uma espécie de serpente que é, ao mesmo tempo, peçonhenta e venenosa (ver ´Peçonhentos e venenosos’). Seu nome científico é Rhabdophis tigrinus, mas pode chamá-la de cobra-tigre-asiática.

A cobra-tigre-asiática ((i)Rhabdophis tigrinus(/i)) é uma espécie nativa de algumas regiões da Ásia. Alguns especialistas também a conhecem como yamakagashi, seu nome popular em japonês. (foto: Wikipedia)

A cobra-tigre-asiática ((i)Rhabdophis tigrinus(/i)) é uma espécie nativa de algumas regiões da Ásia. Alguns especialistas também a conhecem como yamakagashi, seu nome popular em japonês. (foto: Wikipedia)

Ela tem dentes especiais no fundo da boca, com os quais injeta em suas presas as toxinas produzidas em glândulas na cabeça. Mas, existe algo mais. Quando incomodada, essa serpente costuma levantar a cabeça e mostrar a região da nuca. Esse comportamento é estranho, pois uma bicada ou mordida na cabeça da cobra por outros bichos pode ser fatal. Então, por que deixar a cabeça exposta ao predador? Será que ela é tão corajosa assim?

Quando incomodada, a cobra-tigre-asiática até costuma levantar a cabeça e mostrar a nuca. A seta vermelha indica onde as glândulas especiais da nuca ficam. (foto: http://www.pnas.org/content/104/7/2265.short ©National Academy of Sciences, U.S.A., 2007.)

Quando incomodada, a cobra-tigre-asiática até costuma levantar a cabeça e mostrar a nuca. A seta vermelha indica onde as glândulas especiais da nuca ficam. (foto: http://www.pnas.org/content/104/7/2265.short ©National Academy of Sciences, U.S.A., 2007)

A resposta foi encontrada em 1935, pelo pesquisador japonês Kenji Nakamura. Ele descobriu que na nuca da cobra-tigre-asiática existem glândulas que guardam um líquido amarelado e fedido. Se a nuca da serpente é apertada, as glândulas se rompem e o líquido sai, causando dor intensa se atingir os olhos.

Entre os anos de 1985 e 1986 os cientistas descobriram quais substâncias compõem esse líquido. As principais têm nome complicado: “bufadienolídeos”, toxinas também presentes no veneno de sapos do gênero Bufo, da mesma família dos sapos-cururu aqui do Brasil. Os sapos são o principal alimento das cobras-tigre-asiáticas. Será que isso quer dizer alguma coisa?

Uma rede de pequenos vasos sanguíneos leva para as glândulas da nuca as toxinas que a cobra-tigre-asiática rouba dos sapos que ingere. Como isso acontece ainda não foi esclarecido pelos cientistas. Os vasos e as glândulas foram tingidos de amarelo para estudo. A barra branca equivale a 1 milímetro de comprimento. (foto: http://www.pnas.org/content/104/7/2265.short ©National Academy of Sciences, U.S.A., 2007)

Uma rede de pequenos vasos sanguíneos leva para as glândulas da nuca as toxinas que a cobra-tigre-asiática rouba dos sapos que ingere. Como isso acontece ainda não foi esclarecido pelos cientistas. Os vasos e as glândulas foram tingidos de amarelo para estudo. A barra branca equivale a 1 milímetro de comprimento. (foto: http://www.pnas.org/content/104/7/2265.short ©National Academy of Sciences, U.S.A., 2007)

Foi apenas em 2007 que um time de pesquisadores do Japão e Estados Unidos descobriu que a cobra-tigre-asiática rouba as toxinas dos sapos que come. Os cientistas perceberam que os bufadienolídeos só eram encontrados nas glândulas da nuca quando as serpentes ingeriam sapos. Cobras-tigre-asiáticas de uma ilha sem sapos não tinham essas toxinas, assim como as cobras de cativeiro alimentadas com peixes e rãs. Mais interessante ainda é que as fêmeas grávidas conseguem doar um pouco das toxinas de suas glândulas para as glândulas dos embriões. Assim, os filhotes já nascem podendo se defender.

Além da cobra-tigre-asiática, outras 12 espécies, todas nativas da Ásia, possuem glândulas de veneno na nuca. Mas, quase nada foi estudado sobre elas até hoje. Ainda temos muito o que descobrir sobre essas serpentes peçonhentas e venenosas!

Peçonhentos e venenosos

Existem animais que produzem em seu organismo substâncias tóxicas para outros bichos. Os peçonhentos conseguem injetar essas toxinas (peçonha) em uma presa ou predador usando, por exemplo, um ferrão ou dentes especiais. Já os venenosos produzem toxinas (veneno), mas não conseguem injetá-las, sendo geralmente preciso morder o bicho para liberá-las.

Algumas espécies de serpentes possuem na cabeça um par bolsas (glândulas) que produzem e estocam a toxina. Elas são ligadas por meio de canais a dentes especiais usados para injetar a peçonha. Portanto, as serpentes que possuem este sistema de injeção de toxinas não são venenosas, mas peçonhentas.