Vai um rato aí, moço?

(Ilustração: Mario Bag)

Passeando pelos mercados populares, feiras ou mesmo nas ruas das cidades, você já deve ter visto gente vendendo de tudo: vassouras, cachorros-quentes, jornais, galinhas. Mas você já cruzou com um vendedor de ratos por aí?

Hoje seria muito estranho se isso acontecesse, mas, no início do século 20, a compra e a venda de ratinhos de rua era moda no Rio de Janeiro.

Naquela época, a cidade estava infestada de ratos de rua que transmitiam várias doenças, incluindo a temida peste bubônica, que causa manchas e inchaços na pele e até a morte. Esse mal, que era transmitido pelas pulgas dos ratos, já havia atingido mais de um terço da população da Europa no século 14 e estava se espalhando pelo Rio também.

Preocupado com o problema, o famoso cientista e sanitarista Oswaldo Cruz teve uma ideia: resolveu anunciar por aí que o governo compraria ratos. Assim, ele acreditava que a população seria sua aliada para caçar os bichinhos e tirá-los das ruas, evitando que continuassem transmitindo doenças.

Os funcionários do governo anunciavam pela trombeta que estavam prontos para comprar ratos (Imagem: Acervo COC/Fiocruz)

“A ideia era acabar como o vetor da doença, então, houve uma grande caça aos ratos”, explica Dilene Nascimento, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz. A medida durou quatro anos e os casos de peste reduziram bastante. “Durante esse período, foram capturados mais de 1 milhão e meio de ratinhos”, completa Dilene.

Infelizmente, houve quem se aproveitasse da situação para se dar bem. Como o dinheiro oferecido em troca de cada rato chegava a 300 réis – o que era uma boa quantia na época –, algumas pessoas começaram a buscar ratinhos nas cidades vizinhas ou mesmo criar os bichos em casa só para vender ao governo, colocando sua vida em risco por causa do dinheiro.

Quando Oswaldo Cruz viu que isso estava acontecendo, teve medo de que sua medida para reduzir a população de ratos no Rio de Janeiro acabasse incentivando justamente o contrário: a criação de cada vez mais ratos para vender. Por isso, ele suspendeu a compra de ratos e começou a buscar alternativas para prevenir a transmissão de doenças. “Hoje sabemos que a higiene é a mais importante”, completa Dilene.